sábado, 15 de novembro de 2008

Pano pra manga

Meu nome é Eric Rocha, estudante de Jornalismo da PUC-Campinas, assim como os demais que irão publicar seu textos aqui no blog. Irei falar aqui de Economia. E nesta estréia, coloco a disposição uma matéria que fiz recentemente sobre algo que ainda vai render muitas postagens: a crise mundial. Espero que sirva de introdução para as análises que virão...


Deus, salve o mundo!
A queda do consumo relacionada com a crise; e o quanto isso atinge sua vida


Eric Rocha

Inovação, créditos transformados em papéis e preços irreais. Essa combinação foi responsável pelo início da maior crise mundial desde a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Sua origem é o mercado imobiliário, onde os preços não correspondiam à realidade: o setor financeiro estava se descolando do setor real da economia. No entanto, o que parecia ser algo relativo apenas a bancos, seguradoras e grandes investidores, acabou por atingir as populações de todo o mundo. É a transição de um boom no consumo americano para uma queda mundial.
No começo dos anos 2000, os EUA viviam um boom imobiliário. Com juros baixos e com a possibilidade de tomar empréstimos facilmente, os americanos se propuseram a comprar casas não só para morar, mas também como forma de investimento. O mercado aqueceu e os imóveis se valorizaram o que, no entanto, não afastou os compradores. Os bancos, com alta liquidez, começaram a aprovar hipotecas para pessoas que não tinham bom histórico em financiamentos, a chamada camada do subprime. Diante do sucesso, os bancos partiram para uma inovação: transformar em papéis (produtos financeiros) os créditos que deveriam receber. O risco, que era grande, ficou maquiado diante dos grandes retornos gerados por estes papéis. Com fôlego garantido, as instituições continuaram a negociar com essa camada e a dar tom para a crise que viria a seguir.
Para desespero dos especuladores, os juros subiram. As mensalidades dos financiamentos ficaram mais caras, aumentando o número de inadimplentes. Os preços das casas, que estavam inflados, passaram a cair vertiginosamente. As hipotecas, feitas para ressarcir os bancos em casos de inadimplência, passaram a não pagar integralmente o valor da dívida. Os papéis do subprime começavam a contaminar toda a economia. No dia 7 de setembro, o governo americano anunciou que iria tomar controle das gigantes do mercado hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac. Uma semana depois, o banco de investimentos Lehman Brothers pediu concordata. Imediatamente as Bolsas de todo o mundo absorvem as perdas. Dada a fragilidade do momento, pacotes de ajuda por todo o mundo começam a eclodir. “O socorro financeiro que os Bancos Centrais estão fazendo é para, de certa forma, substituir os ativos podres dos bancos por ativos dos próprios Bancos Centrais”, explica o professor da Faculdade de Economia da PUC-Campinas Pedro de Miranda Costa.

Produtos nacionais

Em um cenário de total instabilidade, a taxa de câmbio disparou. O dólar no mês de outubro acumulou alta de 13,4%. Ao mesmo tempo em que se tornou um ótimo investimento, a moeda americana influencia o preço de alguns produtos, o que afeta diretamente o consumo. No entanto, os produtos nacionais, defendidos geralmente como opções aos estrangeiros, não estão totalmente livres das oscilações de preço. “Quando há desvalorização do real perante o dólar, do ponto de vista do produtor, fica mais vantajoso vender esse produto lá fora do que aqui dentro. Ele deslocaria sua produção até o ponto que o mercado externo aceitasse”, afirma Costa. Entretanto, o economista lembra que não há uma alta do dólar isolada e sim num cenário de possível recessão mundial. “Quando você tem uma queda de demanda, a tendência é você ter uma queda no preço em dólar. Então não necessariamente implicará em aumento de preços aqui.”.

Consumo

Sobre o consumo, Costa defende que existe um aspecto diferente na queda do consumo americano e brasileiro. Enquanto que nos EUA o “sistema financeiro é muito presente na economia e tem efeito direto na renda da população”, no Brasil essa relação não é tão presente. Isso porque, na economia nacional, a porcentagem de pessoas que investem na Bolsa é muito menor do que na americana. Mas, a partir da queda de setores importantes como o varejista, a expectativa do empresariado é afetada. Citando o economista britânico John Maynard Keynes, famoso por defender a intervenção do Estado no sistema econômico, Pedro de Miranda Costa afirma que o grande problema da atual crise é a característica de se auto-gerir. “Afetando as expectativas dos empresários, que optam pelo desinvestimento, o desemprego aumenta, que diminui a renda e consequentemente o consumo, que piora os resultados dos empresários. Assim, vamos para esse ciclo para baixo”, conclui o economista.

Liberalismo

Questionado sobre se os governos estão certos em intervir diretamente na crise mundial, o economista considera estas ações “um pensamento contra-intuitivo”. “Se eu gastar mais ou se gastar menos não vou ganhar mais. Quando o governo gasta, está gerando emprego e renda, que pode melhorar as expectativas dos empresários”. A partir disso, segundo Costa, a tendência é que crise auto-gestora ficasse mais ameno. O governo americano aprovou no mês passado um pacote de ajuda de US$ 850 milhões. Deste valor 700 bilhões são destinados ao socorro do mercado financeiro, enquanto que os 150 bilhões restantes foram reservados para emenda dos parlamentares, cortes de impostos e ajuda a empresas que não são do setor financeiro, mas que também foram afetadas pelo colapso econômico.

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