É evidente a decadência que sofre o futebol brasileiro nos últimos anos: craques recém-descobertos exportados, máfias envolvendo a arbitragem, corrupção dentro dos clubes, etc. É evidente também a grande propagação do futebol estrangeiro nas terras de Garrincha e Pelé, haja vista que canais abertos e fechados transmitem todos os principais campeonatos do mundo da bola, criando assim uma opção a mais ao apaixonado torcedor brasileiro. Não é de se espantar, então, a popularização, principalmente entre os mais jovens, dos ricos e organizados times europeus que causam admiração e inspiração naqueles que os acompanham. Nas ruas e nas "peladas" proliferam-se as camisas vermelhas de Cristiano Ronaldo, a azul-grená de Lionel Messi, discussões acirradas ocorrem nos programas esportivos, nas escolas, no trabalho e até nos botequins, sobre os campeonatos da Europa e suas estrelas bem pagas.Não se pode culpar o jovem torcedor brasileiro (aquele que passou a ter acesso a uma vasta variedade de conteúdo graças à TV paga, atualmente acessível à boa parte da população) de preferir um Real Madrid, da Espanha, ou um Manchester United, da Inglaterra. Assistir às partidas nacionais, tanto no estádio quanto na televisão, tem sido um ritual doloroso, pode-se dizer, a começar pela falta de infra-estrutura e segurança que desestimula o torcedor a ver seu time de perto e também o fato de que a qualidade dos jogos, e neste quesito se incluem jogadores, árbitros, narradores e comentaristas, não é das melhores. Ao contrário daqui, a Europa exibe um futebol agradável, bonito, organizado, em cujos gramados desfilam os craques made-in-Brazil, fazendo com que os "torcedores em formação" se identifiquem ainda mais e se sintam atraídos pelo glamour estrangeiro. Há dez anos quase não se falava do futebol cotidiano do Velho Continente. Hoje, com o avanço no setor de comunicação, TV, Internet e até rádio possibilitam esse alcançe ao torcedor. Nas páginas do Orkut, por exemplo, há mais membros na comunidade do Manchester United do que nas comunidades do Santos e do Fluminense. É possível acompanhar os jogos nas rádios e nos canais de TV onlines bastando ter uma internet rápida. Essa evolução tecnológica deu chances ao surgimento de um novo tipo de torcedor: o torcedor globalizado que busca, com a ajuda da variedade de transmissões, um futebol que o agrade, diferentemente deste jogado no Brasil. Sendo assim, ele passa a assimilar o football inglês, o calcio italiano, o fútbol espanhol, e até mesmo o soccer norte-americano às suas preferências. Não digo que daqui a alguns anos encontraremos estádios vazios e clubes brasileiros sem torcida, mas começo a perceber que São Paulo, Palmeiras, Vasco, Grêmio e outros times começarão a dividir sua torcida com os grandes times europeus. Quando tinha dez anos, nem sequer conhecia o tal de Real Madrid por quem há seis anos me tornei seguidor. Hoje, se pergunto a meu primo de oito anos onde joga o atacante sueco Ibrahimovic ele responde corretamente: "Inter de Milão". Sinal de que os tempos mudaram.
João Eduardo Colosalle
5 comentários:
Outro problema é o pay per view, outro dia mesmo fui ver na casa do meu tio Barcelona e Real Madrid e tinha que comprar o jogo... é frustrante ter que ver pela internet o resultado de um clássico do futebol mundial...
Belo texto.
Excelente sua análise.
E o grande reflexo disso é o sonho do garotinho em jogar futebol. Não existe mais aquelé menino que, ao 7 anos, sonha ser ídolo do Corinthians, Flamengo ou qualquer outro time brasileiro e depois chegar à seleção: ele sonha em jogar no Milan, no Barcelona.
É triste, mas é inevitavel, como vc muito bem analisou.
O problema é um fenômeno mais próximo chamado Boca Jrs. Estima-se que em 10 anos o Boca tenha mais torcedores brasileiros do que de clubes tradicionais.
Títulos são fundamentais e a grandeza do Boca é invejável. Mas entra aí tambem o velho defeito brasileiro: achar que o vizinho é sempre melhor que a gente.
Heitor Mário Freddo
Antes, o sonho do garotinho era jogar no Corinthians ou Flamengo, para o sonho maior: JOGAR NA SELEÇÃO BRASILEIRA.
Hoje, o sonho é chegar à Seleção, para um novo sonho maior: JOGAR NA EUROPA.
Aindependência financeira, em tempos de futebol globalizado, mostra outros caminhos e tendências. A própria Seleção deixou de ser patrimônio nacional e, até pelo seu caráter de posse de uma entidade de direito privado (que é a CBF), passa por todo um processod e desinteresse contínuo, só interrompido em época de Copa do Mundo.
Certamente, as camisas estrangeiras já estão empatadas em número de vendas com as de clubes estrangeiros.
Muito muito bem escrito, bem pensado e analisado.
O futebol mundial está cada vez melhor doq o futebol jogado no Brasil, mesmo que muitos de seus astros tenham suas raízes aqui.
Ainda assim, não troco o MEU Cruzeiro por nenhum destes times estrangeiros. Acho que o time para o qual torcemos, torna-se quase um morador a mais na casa, um amor. E não nos desfazemos de amores só porque eles não estão tão organizados, tão bonitos ou tão emocionantes assim.
Ótimo texto, mesmo!!!
Beijos,
Cá Reis
Eu acho que sou um pouco radical em relação a isso hehehe...
Não acredito que haja grandes influências na questão de torcer; o time europeu vai ser sempre o segundo time, que você torce, mas que se jogar com o do coração, há de se torcer contra. Enfim, os meios de comunicação globalizados aceleraram essa relação, mas não vejo grandes perigos para os clubes. Nós somos apaixonados pelos nossos times e não vejo uma geração que torceria somente pro Manchester, por exemplo.
Eric Rocha
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