A minissérie Maysa terminou ontem a noite e, além de ser uma encantadora excessão dentro da produção da Rede Globo, que utilizou toda sua competência para uma produção com conteúdo cultural, deixou em pauta a conturbada relação entre celebridades e a mídia.
Ao longo se sua carreira, Maysa Monjardim Matarazzo foi motivo de inúmeras capas de revistas, tanto pelos sucessos e apresentações inesquecíveis quanto pelos “escândalos”, relacionamentos e momentos depressivos em que a artista se envolvia.
Tudo na vida de Maysa era de interesse do público: nadar nua em uma cachoeira ao lado de amigos, tentativas de suicídio, envolvimento com o grupo da Bossa Nova, gravação em francês, turnê internacional, acidentes, embriaguez, literalmente todos os movimentos da polêmica mulher tornavam-se notícia. Em certo ponto, a cantora chegou a declarar: minha vida é um prato de bosta, algo que a imprensa adora vender. Não discuto a declaração e concordo que boa parte da “imprensa” sobrevive disso.
Continuando sua história, em determinado ponto a cantora conseguiu aquilo pelo qual lutava: depois de tanto destratar jornalistas, esnobar profissionais e pedir paz, a mãe de Jayme Monjardim viveu um tempo entre plantas e longe da mídia. O que ela fez então? Criou motivos para voltar a ser notícia.
Isso não é exclusividade de Maysa. Mesmo talentosíssima, sua popularidade (e conta bancária) só chegaram a esses níveis graças à tão detestada mídia. Em um cenário de inúmeros talentos tão bons quanto ela, o que a diferenciava era estar todo dia em evidência, despertar curiosidade pela forma de vida que levava e isso atraia cada vez mais o público a sua obra.
Outro exemplo – esse bem mais recente – é o atacante Ronaldo. Desde que chegou ao Corinthians, o atacante reclama da falta de privacidade que anda vivendo: todos os dias, seus exercícios físicos, seus recreativos e qualquer movimento que faça em São Paulo sempre é acompanhado de perto pelos fotógrafos e repórteres. Hoje o Timão disputa um amistoso no Pacaembú e o que faz Ronaldo? Uma pontinha de comentarista na transmissão da TV Globo, caminho idêntico ao do técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo, no ano passado.
A situação é a mesma. A forma como a mídia o criou como Fenômeno fez seu talento se destacar ainda mais diante de bons jogadores. E mesmo sem jogar, Ronaldo sempre é motivo de notícia. As vezes por envolvimentos enganos (?), as vezes porque cria motivos para aparecer (Ferrari nova, namorada nova).
O caminho é simples: a mídia escolhe um bom produto (entenda-se talentoso) para transformá-lo de promessa a sensação do momento. O artista em questão aproveita todos os holofotes para mostrar sua obra, misturando notícias pessoais com criações artísticas, tudo bem planejado. Quando atinge um certo nível de popularidade, inicia-se o período de revolta: “me deixem em paz”, “me esqueçam”. Em certo momento isso acontece, os holofotes se viram e então o produto tenta voltar de qualquer forma a ser notícia.
Vale inventar gravidez, brigar em boates, quebrar quartos de motel, gravar um Acústico MTV, desfilar no carnaval ou fazer um filme pornográfico. O importante é fazer as pazes com sua alma gêmea nessa relação “agridoce”.
Heitor Mário Freddo
2 comentários:
Assim como a indústria cultural manipula o seu público, o astro exerce essa atração com o meio. Reclamam mas não vivem sem. É a tônica da sociedade do espetáculo...
Disse tudo!
Sou sua fã...uahuha
Mas é bem verdade, me irrito com essa mídia, chiclete, que só quer correr atrás de grandes escandalos e fica mostrando penos e dispensáveis acontecimentos em busca disso.
Mas é uma relação de amor e ódio, ou quase necessidade e desprezo, entre o elemento do escândalo (seja ele Maysa, Ronaldo fofomeno, ou qualquer outro) e a mídia.
Biejo
Cá Reis
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