
Muito se critica o governo Evo Morales e a forma como ele conduz a Bolívia de acordo com sua cabeça de um ditador de esquerda e péssimo diplomata. As críticas são justíssimas e de fato Morales é um anti-democrata ainda não tão assumido, mas ainda assim a população de seu país o aprova em sua maioria.
Ontem, cerca de 85% dos Bolivianos aptos a votar compareceram às urnas para decidirem se aprovam ou não a proposta de uma nova Constituição para a Bolívia, na qual os indígenas terão maioria no Congresso – eles são 47% dos 10 milhões de habitantes -, suas tradições e línguas serão oficializadas, será imposto um limite máximo de 5.000 hectares a proprietários de terras – evitando que grandes latifundiários explorem a população mais pobre – e o Estado terá mais bases legais às nacionalizações de recursos.
Os projetos atingem diretamente a população historicamente excluída boliviana, mas tem seu preço altíssimo: dá mais forças para que o governo possa exercer funções sem regulação e, principalmente, permite a reeleição do presidente, mudando as regras do jogo em pleno mandato e com isso abrindo pretexto para se manter ainda mais tempo no poder.
A estratégia é muito boa, mas muito fácil de ser percebida: Evo levanta a bandeira do popular, do defensor dos excluídos, e em troca é carregado nos braços para mais quantas eleições e mudanças constitucionais sua vontade permitir. Ocorre que entre os defensores da esquerda, ditadura de companheiros – como Fidel/Raúl Castro e como sonha Hugo Chavez são permitidas como se “eles estivessem fazendo um favor em não deixarem o cargo ser ocupado por um ‘porco’ capitalista”.
Os resultados de boca-de-urna apontam uma vitória da situação, mas é certo que em 4 estados a rejeição a Morales será demonstrada com a maioria nas urnas: Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando, as 4 regiões mais ricas do país e para a qual o presidente simplesmente esqueceu de governar. É perfeitamente legítimo – e bom – que seu trabalho seja focado nos mais necessitados, mas quem movimenta a economia também merece atenção.
Para a América do Sul, a vitória de Evo pode fortalecer ainda mais o Brasil como “o embaixador internacional da região” e o porta voz direto nas negociações do Mercosul, já que os governos mais radicais de esquerda recusam-se a mostrar ao seu povo que negociam com os ianques (embora a maior parte do petróleo venezuelano seja vendido aos Estados Unidos).
Mesmos assim, para o Brasil as negociações com a Bolívia, já bastante desgastadas, podem se tornar em conflitos sérios caso sejam dados mais poderes a Evo Morales. Em 2010 teremos um presidente que não terá a mesma companheirice de Lula, e atitudes como a invasão da sede da Petrobras no território boliviano podem acabar mal.
Ontem, cerca de 85% dos Bolivianos aptos a votar compareceram às urnas para decidirem se aprovam ou não a proposta de uma nova Constituição para a Bolívia, na qual os indígenas terão maioria no Congresso – eles são 47% dos 10 milhões de habitantes -, suas tradições e línguas serão oficializadas, será imposto um limite máximo de 5.000 hectares a proprietários de terras – evitando que grandes latifundiários explorem a população mais pobre – e o Estado terá mais bases legais às nacionalizações de recursos.
Os projetos atingem diretamente a população historicamente excluída boliviana, mas tem seu preço altíssimo: dá mais forças para que o governo possa exercer funções sem regulação e, principalmente, permite a reeleição do presidente, mudando as regras do jogo em pleno mandato e com isso abrindo pretexto para se manter ainda mais tempo no poder.
A estratégia é muito boa, mas muito fácil de ser percebida: Evo levanta a bandeira do popular, do defensor dos excluídos, e em troca é carregado nos braços para mais quantas eleições e mudanças constitucionais sua vontade permitir. Ocorre que entre os defensores da esquerda, ditadura de companheiros – como Fidel/Raúl Castro e como sonha Hugo Chavez são permitidas como se “eles estivessem fazendo um favor em não deixarem o cargo ser ocupado por um ‘porco’ capitalista”.
Os resultados de boca-de-urna apontam uma vitória da situação, mas é certo que em 4 estados a rejeição a Morales será demonstrada com a maioria nas urnas: Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando, as 4 regiões mais ricas do país e para a qual o presidente simplesmente esqueceu de governar. É perfeitamente legítimo – e bom – que seu trabalho seja focado nos mais necessitados, mas quem movimenta a economia também merece atenção.
Para a América do Sul, a vitória de Evo pode fortalecer ainda mais o Brasil como “o embaixador internacional da região” e o porta voz direto nas negociações do Mercosul, já que os governos mais radicais de esquerda recusam-se a mostrar ao seu povo que negociam com os ianques (embora a maior parte do petróleo venezuelano seja vendido aos Estados Unidos).
Mesmos assim, para o Brasil as negociações com a Bolívia, já bastante desgastadas, podem se tornar em conflitos sérios caso sejam dados mais poderes a Evo Morales. Em 2010 teremos um presidente que não terá a mesma companheirice de Lula, e atitudes como a invasão da sede da Petrobras no território boliviano podem acabar mal.
Heitor Mário Freddo
8 comentários:
Heitor,
Confesso que me assustei um pouco já com a maneira como você iniciou o seu texto, afirmando que é a "cabeça de um ditador de esquerda" que conduz o país da Bolívia. Achei a crítica um pouco arbitrária de sua parte, mas resolvi seguir em frente no texto.
A próxima frase pareceu-me ainda mais arbitrária: "Morales é um anti-democrata ainda não tão assumido, mas ainda assim a população de seu país o aprova em sua maioria". Arbitrária pois, além de você fazer uma crítica vaga afirmando que Evo é um ditador "ainda não tão assumido", o adversativo que você usa com a palavra "mas" desmoraliza a opinião da maioria da população boliviana, como se o apoio desta a Evo viesse a partir do não-conhecimento do caráter ditatorial deste.
Tentei lembrar, enfim, do pouco que conhecia sobre a constituição boliviana (a nova, que vem a substituir a de 1826 - a data fala por si só da constituição antiga). Tentei lembrar justamente pois, pelo o que sabia, ela previa algumas medidas democratizantes: a reforma agrária, por exemplo. Aliás, ao contrário do que você disse, não será imposto o limite máximo de 5000 hectares. Haverá uma pergunta, à parte, para decidir entre 5000 ou 10000 como tamanho mínimo para que um latifúndio improdutivo seja destinado à reforma agrária.
Além disso, lembrava de que as populações indíginas terão maior autonomia sobre seus territórios e sistema judicial, além de representação fixa no legislativo. Também, haverá reconhecimento das autonomias, tanto departamentais, quando indígenas, o que demonstra uma descentralização política, apesar de, é verdade, haver uma maior centralização econômica por parte de Estado.
Por fim, Heitor, assustei-me bastante quando você disse: "permite a reeleição do presidente quantas vezes for preciso.", o que não é verdade. A nova carta estabelecerá reeleição LIMITADA. No caso de Morales, por exemplo, a mais um mandato consecutivo de 5 anos. Existe, sim, uma manobra para permitir uma eleição a mais para Morales do que ele conseguiria com a velha constituição. Entretanto, na nova, a reeleição é, sim, limitada.
Confesso, então, que fiquei levemente decepcionado com o seu texto. Você demonstrou claramente não conhecer a nova constituição boliviana. Espero, então, que as críticas duras e arbitrárias, que nele você escreveu, sejam resultados desse desconhecimento, e não de uma possível influência por meios de comunicação que têm urticária à esquerda, como a revista Veja.
Seria interessante você fazer uma nova postagem corrigindo os seus erros (não sua opinião, pois opinião errada não existe. Mas os erros quanto à nova constituição). Eu, pelo menos, acompanho quase diariamente o blog de vocês (sou primo do Eric). Existem pessoas que, por aqui, formam suas opiniões, aumentam seu campo de conhecimento e informação. É preciso ter responsabilidade para com elas.
Abraço.
Pedro, muito obrigado desde já pela atenção e pelas críticas.
Quanto ao desconhecimento, não é verdade. Estudei sim a proposta de nova constituição e tentei resumir as propostas, mas não mudo em nada minha opinião.
Confesso que errei na expressão "quantas vezes quiser", e já está corrigida e melhor explicada sobre o ponto que tentei discutir.
Quanto ao texto, tentei deixar bem claro que as propostas de Morales são na espécie de "uma mão lava a outra": Evo concede algumas reivindicações populares (algumas justas, outras discutíveis como as nacionalizações) e em troca o poder do presidente vai aumentando cada vez mais. Se isso não é um princípio de ditadura, não sei então como pode ser chamado.
Sobre "desrespeitar a opinião popular", primeiramente que ela ainda não foi apurada - e boca-de-urna não é oficial; depois, boa parte da população não concorda com essa política. A antiga elite se tornou agora os reprimidos. Um governo democrático tenta ao máximo evitar que haja "parte excluída". Como disse no texto, priorizar as classes mais baixas é uma coisa - muito justa por sinal -, mas excluir que haja uma elite é SIM desrespeitar o povo.
O enfoque do texto é o seguinte: Morales segue a mesma linha de muitos ditadores criticados pela esquerda por utilizarem de métodos - sobretudo a propaganda - para influenciarem seu povo e chegar a um ponto em que seu poder é ditatorial.
Que diferença tem entre eles e um governante que utiliza o povo pobre para se estabilizar no poder? Quem muda a regras eleitorais no meio do mandato não pode ser tratado como democrata, você concorda?
FHC fez isso no Brasil e foi criticado, por que então Evo Morales não será?
Não acho que meu texto tenha sido irresponsável, mas respeito sua opinião.
Garanto também que que a minha não tem nenhuma influência da Revista VEJA (nem li sobre o tema nela), nem tenho "urticária à esquerda". Também não sou direitista.
Só não concordo com esse espírito da esquerda de que "ditadura do proletariado" não é ditadura. É sim.
E mantenho minha opinião sobre o Governo Morales. Democracia sempre, mesmo que o ditador seja um homem do povo. Pode apostar que se os bolivianos continuarem dando tamanha força a Evo em breve o país terá o poder centralizado.
E continue acompanhando sempre nosso blog e meus textos.
Mais uma vez obrigado pela crítica - construtiva - mas entenda que não concordo com muitos pontos dela.
Abraços
Heitor Mário Freddo
Só para deixar bem claro: cada integrante do blog é dono de sua opinião - o que nã orepresenta a opinião do grupo.
E a Liberdade de Imprensa é o ponto que mais queremos destacar nesse nosso projeto de estudantes de jornalismo.
O texto QUE NÃO É IRRESPONSÁVEL, afirmo mais uma vez, representa A MINHA OPINIÃO, e não a do blog Imprensa Marrom e cia como um todo.
Heitor,
Realmente o resultado do referendo não saiu, e boca de urna não é oficial. Por isso mesmo, no meu comentário, assim como na passagem de seu texto à qual fiz referência, me referi ao apoio, digamos assim, de maneira geral do presidente. O apoio que ele recebe de ampla parcela (maioria) da população.
Não acredito que aqui seja o espaço para discutirmos nossas opiniões - divergentes, ao que tudo indica.A liberdade de imprensa é algo indiscutível e sou um grande admirador da profissão do jornalista.
Senti, apenas, que você se valeu de informações erradas para embasar os seus argumentos. Dizer que Evo poderia se reeleger quantas vezes quisesse - um erro seu, conforme assumiu - era um argumento importante para dizer que ele tinha perfil ditatorial. Assim, formula-se uma opinião/julgamento a partir, dentre algumas informações, de uma(s) não verídica(s). Por isso julguei a irresponsabilidade.
Como frisei, sua opinião jamais quis que fosse alterada. Somente queria vê-la baseada em argumentos fundamentados na realidade. Resumindo, a liberdade de imprensa é algo indiscutível. Só não podemos confundir a liberdade de imprensa com a arbitrariedade na imprensa.
Quero agradecer a maneira correta e honesta como recebeu minhas críticas. E que bom que não lê a Veja! Espero que para lá também nunca escreva. Abraço
criticas a parte ... o que é necessário as pessoas entenderem é o que realmente é a esquerda ... existe até certo ponto uma caracterização do que é ser de esquerda .. no entanto o que vemos são politicos espalhados pelo mundo que se auto denominam de esquerda, deturpando verdadeiros ideias e criando estados ditatorias disfarçados em socialismos nacionalistas (venezuela e bolivia em parte), de mercado(china) e burocráticos (cuba e a extinta URSS)que na maioria dos casos defendem a direita e a burguesia disfarçando seus interesse em um suposto governo popular e na maioria das vezes se apagando a uma estratégica altamente bélica. Existem sim correntes e partidos de esquerda, porém os que realmente seguem uma postura adequada são desvalorizados ou banalizados no precoceito de que "todo partido politico não presta"
Pedro,
só para deixar claro: independentemente deste referendo não incluir a reeleição quantas vezes quiser, reafirmo que "mudar as regras eleitorais" já são argumentos para mostrar o perfil anti-democrático de um governante.
Fico feliz com suas críticas e, principalmente, por ter entendido que mesmo pensando diferente, as intenções dessa postagem - e desses comentários - não são de causar intrigas e conflitos.
Continue acompanhando o blog e fazendo seus comentários nas minhas postagens.
Abraços e até o próximo tema!
Heitor Mário Freddo
Fran,
É justamente dessa esquerda que faço a crítica: uma esquerda falsa, que cria governos tão corruptos e elitistas quanto qualquer outra ditadura.
O problema é que tem muita gente que acredita que "violar a democracia em prol dessa esquerda é legítimo", e é esse o caminho [na minha opinião] em que Evo Morales está levando a Bolívia.
Obrigado pelo comentário
Heitor Mário Freddo
Entre a esquerda e a direita, acho que me posiciono no meio. Não porque eu não tneha uma visão politica definida. Mas porque acho que podemos unir o social da esquerda à eficiência da direita.
Reforma agrária e um tratamento melhor para a população menos favorecida é, na minha opinião a grande chave do mundo, uma boa forma de consertar o que está errado. Mas não é desculpa para criar uma ditadura do proletariado. Não sei se esse é o ponto de Evo Morales, acho que tneho que me aprofundar melhor no tema, mas acho válidas as analises do Heitor, do Pedro e do Fran.
Beijos,
Cá Reis
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