quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bola pra frente, oposição


Pesquisa CNT/Sensus mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu mais um recorde de aprovação, tanto pessoal quanto na aprovação de seu governo.
Através da amostragem, 84% da população brasileira, além de gostarem de Lula, aprovam seu desempenho individualmente, enquanto seu governo registra 72,5% dos entrevistados considerando-o ótimo ou bom.
Não entro no mérito dos números – até exagerados – nem dos motivos que levam Lula a ser tão aprovado, mesmo em períodos de crises e com boa parte da população (principalmente nas regiões sul e sudeste) demonizando-o. Discuto aqui como serão as eleições de 2010 e, principalmente, o papel da oposição.
Ontem, o Governo Federal anunciou um aumento de R$ 142 bilhões para o montante previsto para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para obras até 2010 e mais R$ 313 bilhões para obras depois de 2010. O PAC envolve obras de contato direto do Governo Federal com a população, sendo investidos milhões para melhorias estruturais da cidade. Ou seja, Lula trabalha bem embaixo do nariz do eleitor. E está deixando dinheiro em caixa para o próximo presidente também fazer o mesmo.
Considerando que José Serra seja mesmo o candidato do PSDB, como fazer uma campanha para mudar um governo com tamanha aprovação e com tal estratégia? Em 2002 era fácil criticar Lula e a turma do PT: bastava apelar para o “medo”, como fizeram os tucanos – já num ato de desespero – com um testemunho da atriz Regina Duarte. Em 2006 o alvo era o “mensalão”, o “valerioduto” e todos os outros escândalos que marcaram o final do primeiro mandato. Mas e agora?
Lula não é mais o candidato e isso favorece a oposição. Mas criticá-lo certamente trará pontos negativos para a campanha de Serra, e o PT saberá explorar muito bem isso.
A melhor forma de trabalhar, então, será explorando apenas os dois candidatos – Serra e Dilma – e tentando mostrar ao eleitor que Lula já saiu do cenário político. Do outro lado o Governo tentará o contrário, mostrando que Dilma é a companheira de Lula e “vamos juntos nessa luta”.
As últimas eleições municipais foram um exemplo. O candidato a reeleição a prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), para evitar que Marta Suplicy (PT) colasse de vez sua imagem à do Presidente, decidiu fazer elogios ao trabalho de Lula voltado a São Paulo, mostrando que “mesmo sendo de diferentes visões, Lula não mediu esforços para ajudar no governo Kassab”. Pronto, a campanha do prefeito decolou e ele, mesmo tendo de se render à força da oposição, venceu com facilidade.
2010 será uma campanha em que já podemos fazer algumas previsões. Para o PT, com a falta total de um nome de extrema popularidade (seria José Dirceu se não fosse o “mensalão”), dica o trabalho de transformar Dilma na “Lula de saia”. Para a oposição, sobretudo Serra, que hoje lidera com folga as pesquisas, a campanha tem que focar apenas em propostas, continuidades do que está dando certo e melhorias em outras áreas. Tentar debater ética e criticar Lula significa perder todo o carisma que o governador paulista tem.
Só para lembrar – e evitando-se comparações-, no ano passado Geraldo Alckmin liderava com folgas as pesquisas para ser prefeito de São Paulo. Em sua campanha, porém, focou em criticar o então candidato e prefeito Kassab, que se não era popular, tinha ao menos a simpatia do paulistano. Conclusão: tornou-se um candidato antipático e foi apenas o terceiro colocado.

Foto – Serra vacina Lula na campanha contra a gripe na terceira idade. Se quiser ser eleito, as agulhadas precisam parar por aí.

Heitor Mário Freddo

3 comentários:

Eric Rocha disse...

Será uma campanha atípia mesmo. Os candidatos terão que pegar a onda do progresso de Lula. Aquela máxima que um governo novo sempre derruba o que antigo estava fazendo tem de ser destruída de uma vez por todas.

Heitor Mário disse...

Notícia do Folha OnLine:

Oposição acusa Lula de usar balanço do PAC para promover Dilma para 2010

"A oposição acusou nesta quinta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer propaganda eleitoral antecipada para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao prometer executar R$ 646 bilhões em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) até 2010. O líder do DEM na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (GO), disse que o governo agiu com "má fé" ao prometer executar todas as obras do programa em meio à crise financeira internacional."

É disso que estou falando: não adianta tentar bater no presidente Lula. A oposição precisa fazer propostas para o Brasil.

Anônimo disse...

Nosso presidente parece ser intocável! Inúmeras crises, cpi's e polêmicas surgiram, e sua aprovação parece inabalável. Tal fenômeno de popularidade realmente é impressionante, embora ainda eu duvide da veracidade dos números, se for segmentado em classes sociais e regiões. Assim, o viés poderá ser grande...
Me recordo que na eleição do FHC, Lula bateu forte contra o Real. E perdeu a eleição. Na reeleição de FHC, a estratégia foi "reformar o governo e fortalecer" o real, com críticas mais amenas.
Quem se arriscar em atacar o presidente Lula para respingar no seu candidato apoiado (ou melhor, candidata, a dona Dilma), certamente vai se dar mal! O jeito é trazer propostas e novidades popularescas, pois discurso de intelectual não puxa voto neste país.