terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Direitos Humanos para Humanos Direitos


Hoje o Jornal de Jundiaí, através da coluna “Blitz” do repórter policial Fernando Dias divulgou uma suposta carta enviada por uma mãe para outra mãe, em São Paulo, após noticiário da TV. O artigo se chama “Vivemos uma completa inversão de valores” e a correspondência é a seguinte:

“Vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da Fundação Casa em São Paulo para outra dependência, essa no interior do Estado. Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência.
Vi, também, toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação, contam com o apoio da Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, ONGs etc.
Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos, porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente, conto com meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.
Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma vídeolocadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.
No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, em cemitério da periferia de São Paulo.
Ah! Ia me esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranquila, viu, que eu estarei pagando de novo o colchão que seu querido filho queimou lá na última rebelião.
No cemitério ou em minha casa, nunca apareceu nenhum representante destas ‘entidades’ que tanto lhe confortam, para me dar uma palavra de conforto e, talvez, indicar os meus direitos”.

Essa não é uma dor exclusiva deste caso, que mesmo que seja fictício é o exemplo perfeito de como funcionam os trabalhos pelos direitos humanos.
Concordo que devam existir ONGs e entidades cujo foco seja defender o tratamento justo aos detentos, evitando que sejam vítimas de abuso de poder. O problema é que no Brasil, esse é praticamente o único “serviço” que elas prestam.
Recentemente, entidades batalharam por eles, exigindo indultos em datas comemorativas, direito a visitas íntimas para detentos da antiga Febem, melhoria dos uniformes da instituição e tratamento mais adequado. Mas quanto à família de vítimas, que pede como único conforto alguém que a ajude a batalhar por justiça, raramente encontramos. Quando há, são normalmente casos “espetaculares”, como a mãe de Isabela Nardoni e os pais de Eloá.
Mas à mãe da periferia que perde seu filho trabalhador num assalto, resta apenas a fé, porque a ajuda dos homens está difícil.

Heitor Mário Freddo

9 comentários:

Francisco Valle disse...

ONGS são criadas em uma tentativa de suprir as falhas do governo, a maioria delas lutam por objetivos que são obrigação governamentais não cumpridas ... por mais que uma ong ajude de certa forma, seu grande problema é que acreditam que realizando trabalhos especificos mudarão o mundo sem perceber que o problema,gerador de todas essas carencias, é estrutural.

O autor foi mtu feliz no texto ... relata um conflito da sociedade na busca do verdadeiro culpado de seus crimes, mostranto o lado criminoso como possivel vitima e a vitima com voz de indignação.

mtu boa a reprodução heitor
otimo texto

abss

Imprensa Marrom e Cia disse...

Adorei!
Muito pertinente.
Eu, particularmente, sou a favor de que os presos trabalhem por seu sustento, na cadeia mesmo. Só que aí vem aquele papo furado de que poderia ser considerado escravidão, etc.
Agora nós podemos trabalahr para bancar comida, bebida, estadia, e td mais para eles.
Nada contra, não sou nenhum monstro, admiro o trabalho dos direitos humanos, acho que todos tem o direito À uma segunda chance, sou contra violência, etc.
Mas trabalhar não diminui ninguém, pois então, botemos nossos presos para trabalhar. 8 horas por dia de esforço e de brinde ganham uma noite de sono melhor, dormir é mto mais gostoso quando se está realmente cansado.

Beijos,
Cá Reis

Daniel Serrano disse...

heitor, tenho algumas restrições. talvez o pensamento do post seja melhor expressado por "direitos humanos para humanos de direita".

um abraço
daniel

Anônimo disse...

Daniel, se você acha que defender a mãe de uma vítima de um assassinato é "ser de direita", tudo bem. Respeito.

Mas não concordo.

Abraços e obrigado por acompanhar nosso blog.

Daniel Serrano disse...

não se trata de não defender a mãe de uma pessoa vítima de assassinato, heitor, mas, sim, de defender, também, os direitos do bandido, por mais que devamos admitir que, em muitos casos, seus atos foram bárbaros.

ainda assim, quando afirmo ser de direita o posicionamento por você assumido, quero dizer, na verdade, que sair por aí a alardear que "direitos humanos para quem comete crimes é coisa de idiota" é, no mínimo, coisa errada de se pensar.

os direitos humanos têm que ser respeitados nas duas direções; há tempos que as polarizações maniqueístas não são a melhor saída para discussões desse tipo. o que não admito é a utilização de clichês como o que aparece no título desse seu post. daí minha brincadeira, com a paródia do título.

recomendo a leitura da seguinte postagem do jornalista Bruno Ribeiro:

http://botequimdobruno.blogspot.com/2009/02/cade-os-protestos-da-classe-media.html

Anônimo disse...

Daniel, deixei bem claro no texto que concordo que existam ONGs que defendam os interesses dos presos. Minha crítica é que, no Brasil, os direitos humanos são praticamente focados apenas nisso.

Em momento nenhum escrevi que "direitos humanos para quem comete crimes é coisa de idiota". Isso é uma conclusão que foi você quem tirou por si só.

Sinceramente, o assunto é muito mais complexo do que tentar resumir apenas em "sou de esquerda e defendo direitos humanos" e "sou de direita e exijo que os presos paguem pelo que fizeram". Não tem absolutamente nada a ver.

Se você leu o texto, deve ter visto que em nenhum momento defendo pena de morte, tortura ou maus tratos aos detentos.

Apenas coloquei a realidade de que, no Brasil, pouco se faz para proteger famílias que tentam fazer justiça, lutar por seus direitos. Ou isso é mentira?

Só defendo que ONGs que lutam com tanto fervor direitos por indultos, defendam também que, por exemplo, acabe a lei que coloca em 30 anos o limite máximo de um preso no país.

Quanto à postagem sugerida, gostei muito do seguinte parágrafo: "Algumas perguntas me ocorrem fazer no momento. Onde estão os protestos da canalha e a indignação da imprensa? Cadê a classe média para se vestir de branco e fazer passeatas de mãos dadas, pedindo paz e outras babaquices? Quando serão publicadas, na seção de cartas dos jornais, a opinião raivosa dos leitores cobrando a punição rigorosa dos criminosos?"

Perfeita. E serve de base para o que eu escrevi. Cadê as ONGs para pedirem punição a esses bandidos?

Abraços

Daniel Serrano disse...

encerra-se aqui a discussão a fim de que não degringole a coisa. agradeço a argumentação comportada, embora pouco convincente.

Anônimo disse...

Fico feliz com o bom nível da discussão.

Em nenhum momento quis convencê-lo nem modificar sua opinião. Embora não concorde em nada, respeito.

Espero que continue acompanhando meu texto, só faço um pedido: não leia minhas postagens com preconceito por acreditar que eu seja um direitista. Não sou e discordo que a política deva ser vista de forma tão polarizada.

Abraços

Daniel Serrano disse...

quanto a isso, heitor, fique tranquilo; não lerei suas postagens pensando em você como um cara de direita, até porque estou convencido de que vc não o é (como disse, aproveitei o título para parodiar, com uma brincadeira de sonoridade, embora, bem certo, houvesse fundo de seriedade).