sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quem Quer Ser Um Milionário?


Em uma estratégia de marketing, misturada a um toque de bom senso, cinemas do Brasil lançaram ontem uma sessão especial com o filme mais comentado do ano, o indiano Quem Quer Ser Um Milionário?. Cotado para ser o grande nome da noite do Oscar, na qual concorre em dez categorias e é favorito nas mais importantes, o lançamento oficial será apenas em março.
De cara já dou meu palpite de que a produção vencerá na categoria Melhor Filme por duas razões: primeiro, ele é ótimo, um dos melhores estrangeiros que já chegaram ao circuito comercial. E em segundo, porque os americanos não perderão uma oportunidade de divulgar uma produção que escancara a dura realidade de uma economia emergente, algo que funciona como uma ótima propaganda do modo de vida dos Estados Unidos.
Lendo algumas críticas da grande imprensa, fui ao cinema com uma ideia que me colocavam em dúvida a qualidade da história: seria uma comédia, cujo roteiro é um jovem que participa de um programa no estilo “Show do Milhão”. Tinha certeza de que tamanhos elogios fossem exagerados.
Mas logo na primeira cena já percebe-se que a produção bollywoodiana é um drama inteligentíssimo, forte e muito bem dirigido, cujo fio condutor é o jogo, mais como uma desculpa de contar um drama vivido por jovens no país.
A história começa quando Jamal, um semi analfabeto servidor de chá da cidade de Mumbai, é torturado pela polícia local para informar como havia “trapaceado” o fenômeno televisivo “Quem Quer Ser Um Milionário?”, já que vencera, até então, o prêmio mais alto de toda sua história – 10 milhões de rúbias –, superando grandes intelectuais da Índia.
Os oficiais, então, interrogam o “favelado garoto do chá”, questinando-lhe cada resposta dada, sempre desconfiados da presença de microchip ou escuta. Através do nosso velho conhecido jogo de perguntas com quatro alternativas e três possibilidades de ajuda, Jamal demonstra seu conhecimento graças aos dramas que passou para sobreviver desde criança e chegar até ali.
Junto de seu irmão mais velho, o “malandro” Salim, e a garota Latika, sua paixão eterna, que os acompanha após um drama em comum, os “três mosqueteiros” vivenciam tudo o que intelectuais levam anos estudando, seja a respeito de um poeta local, seja sobre a foto do presidente na nota de 100 dólares.
A direção é de Danny Boyle, o mesmo de A Praia – com Leonardo DiCaprio – e da ficção científica Sunshine – Alerta Solar. Dessa vez, o inglês deixou as histórias de aventura barata com uma tentativa de mensagem social para fazer algo realmente sério, maduro e importante.
A aproximação entre as indústrias americana e indiana, após o sucesso de Quem Quer Ser Um Milionário – cujo custo foi de apenas 15 milhões de dólares – deverá ser cada vez mais freqüente. Ou seja, acostume-se a ver elencos participando de ceninhas ridículas de dança durante a exibição dos créditos finais.
A produção é tecnicamente perfeita, as atuações são todas convincentes e o roteiro não poderia ficar melhor. As premiações até aqui são justíssimas e não será diferente caso conquiste todas as estatuetas do Oscar amanhã.
Para os interesses históricos americanos, a chance também é ótima de mostrar que embora seja um país emergente, considerado uma futura potência, a Índia é “composta por um povo bárbaro, atrasado e anos luz atrás da grande nação do mundo”. Vale lembrar que o Brasil vive um momento parecido com o indiano, sendo considerada uma potência em desenvolvimento. O filme Cidade de Deus mostrava, porém, que nosso país não é esse paraíso que tentam vender, e graças ao Oscar, em que concorreu em quatro importantes categorias, mostrou ao público americano “o quanto eles eram privilegiados”.
Nem sempre o filme vencedor de prêmios é o melhor do ano, mas sim o mais interessante. Dessa vez, Quem Quer Ser Um Milionário? atende aos dois requisitos de forma brilhante.

Premiações

- Recebeu 10 indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original ("Jai Ho" e "O Saya"), Melhor Som e Melhor Edição de Som.


- Vencedor de 4 Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora.


- Vencedor de 7 prêmios no BAFTA, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Ator (Dev Patel - Jamal), Melhor Atriz Coadjuvante (Freida Pinto - Latika) e Melhor Direção de Arte.


- Vencedor do Prêmio do Público, no Festival de Toronto.

Heitor Mário Freddo

Um comentário:

Rafael Porcari disse...

Realmente um filmaço. Tem história e mereceu todas as premiações. Embora, acho que infelizmente não será um sucesso de bilheteria no Brasil. Nosso povo prefere outros tipos de enredos...