
É de conhecimento geral o posicionamento da Igreja perante alguns assuntos em particular. Discutir sobre a legalização da Eutanásia, a permissão do aborto, o estudo com células-tronco e tantos outros tópicos, é desgastante e chega a ser inútil, perante os dogmas da Igreja Católica.
Um exemplo disso foi a declaração de Bento XVI nesta terça-feira, na qual o ex-Cardeal Ratzinger falou que a AIDS “é uma tragédia que não pode ser superada com o dinheiro e nem com a distribuição de preservativos, os quais podem aumentar os problemas".
O comentário foi feito enquanto o papa viajava para sua primeira visita à África após assumir o cargo máximo da Igreja, como resposta à pergunta sobre os ensinamentos da Igreja correlacionados à AIDS. Completando sua declaração, Bento XVI afirmou que é uma questão de renovação da moral, “a humanização da sexualidade”.
Não quero entrar no mérito sobre a tendência do atual papa à causar polêmica com declarações muito repercutidas sobre alguns assuntos. Mas creio que seja difícil esquecer alguns de seus maiores deslizes. Em 2006, por exemplo, provocou um burburinho no mundo Muçulmano ao fazer referência à posição do imperador bizantino, Manuel II, sobre Maomé.
Tampouco quero me ater à polêmica dos dogmas católicos. Meu foco, hoje, é questionar a fala do Papa.
Num primeiro momento ela é concisa, mas muito prejudicial. Porém quando embasada na eficácia de alguns programas políticos chega a fazer um pouco de sentido.
Explico. A atual situação da AIDS no mundo, e principalmente na África, é extremamente preocupante.
O número é alarmante, daí a preocupação com relação à declaração do papa. Em um continente no qual alguns países chegam a ter mais de 40% da população infectada pelo vírus do HIV, a simples menção ao fato de que usar preservativo é contra os dogmas da igreja pode causar um grande impacto. Principalmente por que algumas das mulheres africanas já têm certa relutância em aceitar o uso do contraceptivo.
Até então, a camisinha é a melhor forma de prevenção da AIDS.
No entanto, uma política adotada em Uganda, mostrou que o uso do preservativo não é o único meio de evitar a disseminação do vírus. O governo do país conseguiu reduzir o percentual de infectados de 30% para 7% da população, com uma política de estímulo à abstinência sexual dos solteiros e à fidelidade entre os casados, em que se permite o uso de camisinha só em último caso.
Dizer qual dos dois métodos é mais eficaz na prevenção da disseminação do vírus é complicado. Creio que seja mais uma questão de combinar os resultados positivos. Unir os times que estão ganhando e progredir na conscientização global sobre o assunto, independente de crença religiosa ou preconceito político.
Só pra repetir o obvio, AIDS mata. Mas descaso, ou excesso de teoria impraticável, também.
Carina Reis
2 comentários:
Muito boa a análise, Carina.
A igreja, em certos pontos, parece viver no século XIX.
Heitor Mário Freddo
Boa, muito boa.
a igreja precisa de uns cutucões as vezes,pra deixar de lado seus dogmas e aceitar a realidade nua e crua.
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