quarta-feira, 6 de maio de 2009

Por um textinho melhor

A edição do último domingo do jornal "O Estado de São Paulo" traz uma larga entrevista com um dos grandes nomes do jornalismo norte-americano, o escritor Gay Talese, autor do livro "Vida de Escritor", que chega às livrarias nesta semana. Talese é considerado o pai do Novo Jornalismo, ou New Journalism, em inglês, uma maneira jornalística de se escrever que se difere do que atualmente se lê nas páginas de revistas e folhas de jornais.
Na reportagem de Lúcia Guimarães, que foi até Nova York fazer a entrevista, Talese fala sobre o novo livro, defende o jornal impresso, além de comentar sobre o otimismo em relação ao novo presidente Barack Obama. No entanto, aos jornalistas, o escritor faz uma crítica aos modos atuais como a profissão do repórter é executada. Ele afirma que os repórteres de hoje não vão a campo para escrever suas matérias, afinal, a tecnologia lhes permite que a redação seja o lugar em que se passe mais tempo trabalhando, em frente a uma tela de computador. Para ele, deve-se vivenciar o que se escreve.
O gênero de Talese é feito com elementos da narração, como de um simples livro de literatura, que leva ao leitor, não só os fatos e as informações, mas também de que maneira esse fato foi pesquisado ou presenciado pelo repórter, daí o fato deste gênero também ser conhecido como Jornalismo Literário. Não se trata de um simples lide, há diálogos, caracterização dos personagens da reportagem, do ambiente, e até do que próprio repórter sente ou pensa. O New Journalism, pode-se dizer, é de uma leitura muito mais agradável do que a avalanche de informações que o jornalismo impresso oferece.
É notável, porém, a ausência do gênero nas publicações brasileiras. Atualmente, o principal nome, e talvez o único, seja a revista piauí, idealizada pelo documentarista João Moreira Salles, que criou a revista baseada nessa ausência de um texto que combina a precisão das informações, pilar do jornalismo, com a estética, que, dizem alguns, o mais importante elemento literário.
Até nas faculdades, o Jornalismo Literário é esquecido e são poucas as que possuem a matéria na grade curricular. Acredito que grande parte dos brasileiros que têm o hábito da leitura, são mais fiéis aos livros do que aos jornais. Seria uma experiência interessante, a meu ver, que as edições de domingo, mais vendidas e lidas, trouxessem este tipo de texto. Afinal, após uma semana inteira de manchetes sobre corrupção, roubos, crises, assassinatos, o leitor merece um texto para se ler despreocupadamente.
Em épocas que o jornal de papel é constantemente ameaçado da extinção, vale a tentativa de se escrever um texto um pouco mais "bonitinho".
____
Talese no Brasil
No mês de julho, acontece a sétima edição da FLIP, a Feira Literária Internacional de Paraty. Talese será um dos escritores convidados, ao lado do cientista Richard Dawkins.

E para quem se interessa pelo Jornalismo Literário, entre os grandes livros de Talese, "Fama e Anonimato" é um bom começo. O livro traz perfis de personalidades norte-americanas da década de 50, 60, como Frank Sinatra, Joe DiMaggio, Peter O'Toole, sobre pessoas anônimas da sociedade e retrata também a construção da ponte Verrazano-Narrows, em NY, e o cotidiano dos operário que participaram da obra.
Além de Talese, pode-se procurar também por outros nomes como Truman Capote, Tom Wolfe, Norman Mailer, Euclides da Cunha, Ricardo Kotscho e os colaboradores da revista piauí.
____
Por João Eduardo Colosalle

Um comentário:

Heitor Mário Freddo disse...

Achei sensacional a ideia de fazer um jornal mais literário nos domingos.

É uma boa alternativa mesmo.