sábado, 11 de julho de 2009

Quem dera

Certa noite, vinha de uma festa com meus pais e um senhor que cuidara do churrasco e havia pego uma carona conosco. Esse senhor trabalhou na prefeitura de Americana por muitos anos e hoje é aposentado. No meio do caminho, entre um assunto e outro, acabou nos contando algumas histórias e também uma de suas maiores decepções sofridas como funcionário público.
Num certo dia, lhe foi confiado a tarefa de depositar 480 mil reais em alguns bancos da cidade, já que trabalhava no departamento financeiro. O dinheiro estava dividido em quatro cheques de 100 mil e o resto em espécie. Após o vai e vem de um banco a outro, o senhor chegou na agência para depositar um dos cheques e se deu conta de que o havia perdido. Obviamente, ficou muito preocupado, haja vista, 100 mil reais não era quantia que se perdesse, principalmente por um mero subordinado do poder municipal. Revirou completamente a maleta que carregava os cheques, porém, nada encontrou. A tensão do momento fez com que a pressão do homem subisse e ele acabou sofrendo um derrame. Dois dias depois, no hospital, ele mesmo acabou encontrando o cheque dentro da própria maleta.
A decepção ocorreu quando o senhor já estava para conseguir a aposentadoria. A contragosto, ele foi convencido pelo prefeito da época a dar entrada nos procedimentos para se aposentar, pois, mesmo assim, ele ainda teria o emprego garantido. Então, acreditou na palavra do político e aposentou-se.
Após alguns meses parado, chegou a época de eleição e o senhorzinho, então, trabalhou intensamente a favor da candidatura do homem que lhe prometera a continuidade de seu cargo. O prefeito se reelegeu, entretanto, esqueceu-se da promessa que fizera ao funcionário e este acabou desempregado.
A situação vivida pelo homem ao perder os 100 mil reais parece impossível de acometer um político que desvia a mesma quantia dos cofres públicos, ou seja, um dinheiro que não é seu, mas sim de toda a população. Dificilmente, um prefeito sofrerá um derrame ao saber que os seus eleitores podem morrer diante das péssimas condições de um hospital que conta com o apoio da prefeitura.
É triste e vergonhosa a extrema ganância que nossos políticos têm e que culminam em manchas históricas não só na política, mas também no caráter do povo brasileiro. Quem dera a maioria dessa classe tivesse a preocupação com 100 mil reais como teve o senhorzinho churrasqueiro que conheci, quem dera tivéssemos uma maioria interessada em construir uma sociedade digna de se viver e não um luxuoso castelo para se morar.
João Eduardo Colosalle

Um comentário:

Eric Rocha disse...

Sensacional o texto, Jão!
Parabéns