Falta de caráter não tem idade

A primeira ocorreu em Itupeva. O comerciante João de Melo Cavalcanti, de 62 anos, foi condenado a oito anos por uma tentativa de homicídio. O motivo? 2 garrafas de cerveja (o equivalente a R$ 3,95).

Exatamente. O dono do “Bar dos Milagres” discutiu com um freguês com relação ao número de cervejas que ele havia consumido. O cliente dizia ter bebido três, enquanto Cavalcanti, conhecido como “Pezinho”, afirmava terem sido cinco.

Após o bate-boca, o comerciante pegou um revólver e atirou na coluna da vítima, deixando-a aleijada.

Ficou espantado? Pois veja o segundo caso policial do dia, dessa vez de Jundiaí.

O instalador de filtros de água Rubens Martins, de 60 ANOS, foi preso após estuprar uma senhora de 89 anos, que havia contratado os serviços da empresa onde ele trabalhava.

Após encerrar o trabalho, a senhora, cujo nome está sendo preservado pela Delegacia da Mulher, foi empurrada contra a parede, teve sua calça arrancada e foi violentada sexualmente. Ela ficou internada durante uma semana e só teve sua história revelada após pedir à sua filha que a levasse até a igreja pois “precisava ser purificada”.

Em ambos os casos os réus são pessoas já de idade, mostrando que mau caráter não acaba com a pessoa depois que ela fica “velhinha”. Isso porque nem entrei no mérito de Maluf, Lalau, Nabi ou André Benassi. Mas é impossível entender a cabeça desses verdadeiros doentes.

Essas histórias são o exemplo máximo do ponto em que chegou a banalização da vida humana.

Quanto vale a vida humana diante de um prejuízo financeiro, mesmo que seja medíocre? Qual a dignidade que uma idosa que mal pode se locomover pode apresentar, a não ser um mero objeto enrugado?

Aos “anti-juventude” – pessoas que acreditam que só os jovens cometem erros, fica a prova de que o mau-caráter também envelhece. E ao saudosistas, que juram que antigamente sim as pessoas respeitavam o próximo, fica a pergunta: esses bandidos perderam a dignidade apenas agora?

Heitor Mário Freddo

Foto: Rubens Martins, 60 anos, estuprador