A manipulação da informação

De acordo com o Artigo 2º do Código de Ética aprovado no Congresso Nacional dos Jornalistas, em 1987, é dever dos meios de comunicação a divulgação da informação, precisa e correta, independentemente da natureza de sua propriedade.
Nos dias atuais, jornalismo e imprensa se contradizem e desrespeitam os princípios pré-estabelecidos que são agrupados num único termo, ética. A produção em escala comercial, a concorrência entre as mídias e veículos noticiosos, a busca pelo furo jornalístico e, conseqüentemente, pela audiência fizeram do modelo de imprensa capitalista um antro de ações de desrespeito com a denominada ética jornalística. Inegavelmente, muito do que se vê no noticiário das diferentes mídias (televisiva, radiofônica, impressa e online) é uma exposição de verdades indevidamente maquiadas para ceder a interesses de terceiros ou da própria empresa produtora de notícias.
Dentre os princípios que regem o "bom jornalismo" (que tem como bases a isenção e o relato fiel dos fatos), a transparência é a que mais gera contradições na imprensa atual. Muito se comenta sobre o viés que certas notícias produzidas por certas empresas trazem em seu conteúdo. Diz-se que "hoje, o grau de autonomia de um órgão de difusão se mede, sem dúvida, pela parcela de suas receitas que provém da publicidade e da ajuda do Estado e também pelo grau de concentração de anunciantes" (MARSHALL, Leandro. O jornalismo na era da publicidade. São Paulo: Sumus 2003. p. 111). Ou seja, a veiculação da informação está, em grande parte, atrelada à aprovação dos publicitários ou interesses externos, moldando-a de acordo para que não haja repercussão negativa a nenhuma das partes. Sendo assim, a imprensa tem o poder de criar diversas interpretações dos fatos que ela conta. Como exemplo, o livro "A Fabricação da Informação", de Florence Aubenas e Miguel Benasayag, cita a diferença de análise quando "uma ditadura elimina em segredo seus opositores" e quando "os Estados Unidos entrega pizzas a seus condenados à morte e depois difunde imagens de sua execução". A primeira situação é um vista com um escândalo. Já a segunda é de acordo com o princípio da transparência e nada mais.
A manipulação da informação pode ser vista e interpretada de várias maneiras. Há quem afirme que a simples edição de uma matéria já se trata de manipulação. Há também quem afirme que a manipulação se dá a partir do momento em que a notícia é distorcida e levada à sociedade num contexto diferente do que chegou ao repórter e, geralmente, visando seguir a política editorial do veículo ou beneficiando interesses externos.
A segunda afirmação se torna mais plausível e compreensível quando observadas as regras do jornalismo. É fundamental, crucial e indispensável a isenção do conjunto de jornalistas ao se relatar um acontecimento. A imparcialidade, embora seja um dos principais objetivos do bom profissional, é quase utópica por ser, de certa forma, uma contradição à formação crítica e da postura diante do mundo que deve estar presente diante de todo jornalista. Por isso, há de ser praticar a isenção no texto jornalístico, evitando o comprometimento com a pressão exterior. Por mais que na teoria seja explícito, muitos veículos acabam por se deixar envolverem pelo assédio de partidos políticos, multinacionais, em suma, os detentores do poder.
Manipular a informação não só vai contra a ética do Jornalismo como também influencia o pensamento dos que são consumidores da notícia e, sendo assim, pode afetar diretamente a cultura de uma sociedade.

João Eduardo Colosalle e Francisco Valle