segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Os donos do jogo


Toda a política brasileira terá de pedir a benção ao PMDB a partir de hoje. Não que antes já não fosse assim, mas duas vitórias fazem do partido o grande fiel da balança entre situação e oposição. Primeiramente pelo atraso que foi ressuscitar o eterno coronel maranhense José Sarney e depois pela possível vitória de Michel Temer na Câmara dos Deputados, sendo assim o partido responsável a determinar quais serão os ritmos políticos e eleitorais no Brasil.
O ex presidente e senador pelo Amapá (ele filiou-se a um estado menor que o seu para não correr nenhum risco de perder a cadeira na casa) José Sarney foi eleito há pouco Presidente da casa, cargo que irá ocupar – por dois anos – pela terceira vez em sua carreira. Sucessor do passivo Garibaldi Alves Filho (PMDB/RN), Sarney lançou-se por conta própria ao cargo, frustrando assim as expectativas de seu companheiro concorrer à reeleição. Mas sua justificativa estava na ponta da língua: “Eu não queria disputar a presidência do Senado, fui convocado como um homem público que não pode deixar de fugir ao dever de atender a essa convocação”.
Apesar desse discurso messiânico, não é bem assim. O candidato do governo e de toda sua base era Tião Viana (PT/AC), que além de seu partido receberia votos de PRB, PSB, PDT, PSOL – principalmente por ser contra Sarney -, PR, PDT e acreditem, PSDB. Apesar de serem fortes representações políticas, de um total de 81 votos esses partidos teriam 40 votos na casa, restando que apenas 1 dos apoiadores de Sarney “roesse a corda”. Além de PMDB, DEM e PTB mostrarem-se firmes, parte do PSDB não conseguiu manter o acordo e na hora do voto correu para o lado da “oposição”, como disse o próprio líder da bancada, Arthur Virgílio (AM).
Líder esse que antes dos votos afirmou que a candidatura de Sarney “representava o que havia de mais podre na casa”. Após o anúncio de que o ex presidente fora eleito com 49 votos, no entanto, Virgílio pediu um aparte para dizer que “Sarney era um homem preparado e experimentado para conduzir muito bem os trabalhos da Casa”. Credibilidade para quê?
Outro destaque pelo lado da oposição é o “racha” entre PSDB e DEM. Embora a sigla tucana seja mais forte, popular e organizada, dentro do Senado são os democratas quem ditam as regras da oposição, algo claro com essa vitória.
Pelo lado governista, resta agora torcer para que Sarney continue sendo aliado do Governo Lula, apesar de serem inimigos históricos (credibilidade para quê?), já que será ele o responsável por conduzir o que entrará em pauta em pleno ano eleitoral para a sucessão do petista. Não tenham dúvidas de que o Governo terá que comer em sua mão.
Ainda hoje ocorrerá a eleição para a Presidência da Câmara, onde o bom presidente Arlindo Chinaglia (PT/SP) será muito provavelmente sucedido por Michel Temer (PMDB/SP). Seu principal concorrente será Aldo Rebelo (PC do B/SP), que apesar de ser da base aliada não conta com grande simpatia dos petistas (vale lembrar que ele perdeu para Chinaglia quando já era presidente e tentava a reeleição).
Os planos do Governo Federal eram manter o PT em uma casa e o PMDB em outra – é preciso massagear ser ego. O projeto era Tião Viana e Michel Temer, e o deputado já conta com a presidência. Mas e agora?
Em plena negociação para saber com quem o PMDB disputará em 2010 (PT ou PSDB, já que não lançará candidato próprio), o partido que já receberia mimos naturais dos Governos Lula e Serra agora será soberano.


Foto - Os três presidentes do Brasil: Sarney (Senado), Lula (República) e Temer (Câmara).


Heitor Mário Freddo

Um comentário:

Anônimo disse...

Mto bom texto Heitor...
Mais uma do Sarney, pra minha indignação...