segunda-feira, 23 de março de 2009

O Menino do Pijama Listrado

Perfeito. Simplesmente não há melhor definição para esse filme já não tão novo, mas que foi preterido do circuito popular de cinema.
Adaptado do best seller homônimo de John Boyne, O Menino do Pijama Listrado pode ser tranquilamente comparado aos grandes clássicos feitos sobre o nazismo – A Lista de Schindler, A Vida é Bela – e mostra aos espectador que se empolgou com Operação Valquíria o que verdadeiramente significa esse momento histórico.
Enquanto o blockbuster de Tom Cruise tentou vender a imagem de que “alemão bom é aquele com os idéias americanos” e que “matando Hitler todo o problema estava resolvido”, este filme dirigido por Mark Herman (dos desconhecidos Hope Springs - Um Lugar para Sonhar e Laura - A Voz de uma Estrela) trata o assunto com maturidade e transporta o espectador de uma forte extremamente realista.
A primeira lição histórica: o nazismo era mais forte do que seu líder, já que a maioria ariana tinha total convicção daquelas teorias e de que não estava fazendo nada demais contra os “sub-humanos judeus”. Os discursos, sobretudo da recém convertida filha do soldado do Füher, de apenas 12 anos, mostram isso.
“Os judeus sempre roubaram nossos empregos, desprezavam a cultura e literatura alemãs, foram responsáveis por nossa crise econômica, foram os culpados de perdermos a Grande Guerra, são subversivos e mais inúmeros motivos que fizeram por merecer esse destrato. Estamos apenas fazendo justiça”.
A história gira em torno da família de Bruno, um garoto de 8 anos filho de um soldado de alto escalão do exército nazista. Um dia, sua família terá de se mudar para um quartel general responsável por um campo de concentração, ao qual o garoto consegue avistar de sua janela e tem a certeza de ser uma simples e pacata fazenda, “onde as pessoas passam o dia todo de pijama”, em uma referência ao uniforme utilizado pelos escravizados prisioneiros.
O menino, fã dos livros de aventura e com o sonho de se tornar um explorador, começa a ter contato com esse povo “inferior” após sofrer um pequeno machucado e ser enfaixado pelo “apijamado” descascador de batatas, que confessa a ele ter sido médico antes de ser jogado naquele mundo. A inocência do garoto comanda esse convívio e o conduz ao grande contato de sua vida.
Em mais um entediante dia, Bruno encontra um caminho secreto à “fazenda”, chegando ao limite de uma cerca. Lá, conhece Shmuel (“nunca conheci ninguém com esse nome”), uma vítima de 8 anos que tinha um pouco mais de dimensão da história em ação.
A amizade de ambos leva a caminhos simplesmente fantásticos, em que a inocência mostra que outro crime praticado pelos nazistas foi a “catequese ariana”: crianças sem maldade no coração participavam de um crime sem tamanho.
Destaque também para a cena em que o pai de Bruno apresenta a vídeo-propaganda que os alemães faziam dos campos de concentração. Depois de um dia de batente, os nobres trabalhadores encontravam opções de lazer: cafés com discussões filosóficas, rodas de violão e músicos, muitas vezes contratados por alemães, espaços exclusivos para crianças, com parquinhos e amarelinhas, e muita, muita gente feliz e satisfeita. O garoto chega a questionar seu amigo.
Os encontros fazem o menino começar a ter reflexões do mundo adulto, e perceber, pouco a pouco, que aquilo tudo tem algo muito sério escondido.
Provavelmente o cinema de sua cidade não trará essa obra prima diretamente até você, mas corra atrás dessa produção. Mais do que um filme muito bem feito e uma aula de história super bem contada, são inúmeros os exemplos de manipulação, destruição de gerações e tantos outros crimes da época.
A melhor forma de evitar a repetição destes erros é conhecendo-os a fundo.
Para finalizar, uma frase que retrata muito bem a convicção com a qual os alemães defendiam e acreditavam no nazismo: “Bruno, se você encontrar um judeu bom será o melhor explorador do mundo”.
Por favor, não confiem em Operação Valquíria.


Heitor Mário Freddo

Um comentário:

Unknown disse...

Tenho quase certeza de que o nome da irmã dele era Gretl...