
Há alguns anos temos visto bandas e mais bandas surgirem nos palcos brasileiros, sempre impulsionadas por um bom empresário ou por alguns canais e programas de televisão. Não importa se elas tocam músicas compostas pelos integrantes da própria banda, nem se há algum sentido nas letras. Tudo que se tem a fazer para ser um sucesso das paradas é cantar uma letra fácil, que não saia da cabeça de quem a escuta, e um ritmo não tão complexo, daqueles que qualquer aluno iniciante de violão consegue tocar.
A quem realmente aprecia a música não só como uma ótima maneira de passar o tempo ou se divertir, mas também como uma arte a ser discutida e criticada, os tempos em que vivemos não são os melhores para a música nacional. Preza-se muito mais o cachê do que o próprio gosto pela arte. Traçando um paralelo com o mundo do futebol, seria algo do tipo "falta amor à camisa".
Ano passado comemoramos o cinquentenário de um dos maiores movimentos musicais do Brasil, e também do mundo, a Bossa Nova. Um estilo que cativou o país na década de 50, apadrinhado pela extrema complexidade harmônica e melódica de João Gilberto e pela exímia composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Tudo isso, antes de um duro golpe na política e na liberdade dos brasileiros. Durante a ditadura, porém, ainda houve espaço para o surgimento do tropicalismo de Caetano e Gil e das canções de protesto de Geraldo Vandré, nomes devidamente eternizados na história da MPB.
Agora se pergunte: o que temos hoje tocando nas rádios e que daqui a cinquenta anos terá homenagens e exposições? Não temos nada. Apenas músicas enlatadas norte-americanas, as depressivas músicas emo, o funk das letras depreciativas ou o sertanejo melódico e escrachado. Pelo menos nas rádios FMs da região, é quase impossível se encontrar música bem feita, ou a verdadeira música popular brasileira, que dê gosto aos ouvidos. Num cénario cada vez mais comercial e ansioso pela fama, a música bem trabalhada deu espaço a apenas acordos e obrigações entre artistas e gravadoras, claro, visando lucros. Enquanto isso, aqueles que procuram definir um gosto musical têm de sair à caça. Graças à internet e aos compartilhamentos de dados entre os usuários, é possível reviver clássicos do repertório nacional e internacional, descobrir uma banda do gênero folk da Irlanda ou até mostrar ao mundo seus dotes musicais.
Recentemente, uma das maiores comunidades do Orkut voltada para o compartilhamento de músicas foi fechada sob alegação de pirataria. Deixando de lado a discussão quanto à pirataria, a comunidade abrigava um acervo de dar inveja, que agradava a todos os gostos. Com o fim de sua existência, a caçada ficará mais difícil, mas aqueles que não escutam qualquer coisa farão de tudo por manter saudáveis seus ouvidos e, de preferência, longe das rádios comerciais.
João Eduardo Colosalle
A quem realmente aprecia a música não só como uma ótima maneira de passar o tempo ou se divertir, mas também como uma arte a ser discutida e criticada, os tempos em que vivemos não são os melhores para a música nacional. Preza-se muito mais o cachê do que o próprio gosto pela arte. Traçando um paralelo com o mundo do futebol, seria algo do tipo "falta amor à camisa".
Ano passado comemoramos o cinquentenário de um dos maiores movimentos musicais do Brasil, e também do mundo, a Bossa Nova. Um estilo que cativou o país na década de 50, apadrinhado pela extrema complexidade harmônica e melódica de João Gilberto e pela exímia composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Tudo isso, antes de um duro golpe na política e na liberdade dos brasileiros. Durante a ditadura, porém, ainda houve espaço para o surgimento do tropicalismo de Caetano e Gil e das canções de protesto de Geraldo Vandré, nomes devidamente eternizados na história da MPB.
Agora se pergunte: o que temos hoje tocando nas rádios e que daqui a cinquenta anos terá homenagens e exposições? Não temos nada. Apenas músicas enlatadas norte-americanas, as depressivas músicas emo, o funk das letras depreciativas ou o sertanejo melódico e escrachado. Pelo menos nas rádios FMs da região, é quase impossível se encontrar música bem feita, ou a verdadeira música popular brasileira, que dê gosto aos ouvidos. Num cénario cada vez mais comercial e ansioso pela fama, a música bem trabalhada deu espaço a apenas acordos e obrigações entre artistas e gravadoras, claro, visando lucros. Enquanto isso, aqueles que procuram definir um gosto musical têm de sair à caça. Graças à internet e aos compartilhamentos de dados entre os usuários, é possível reviver clássicos do repertório nacional e internacional, descobrir uma banda do gênero folk da Irlanda ou até mostrar ao mundo seus dotes musicais.
Recentemente, uma das maiores comunidades do Orkut voltada para o compartilhamento de músicas foi fechada sob alegação de pirataria. Deixando de lado a discussão quanto à pirataria, a comunidade abrigava um acervo de dar inveja, que agradava a todos os gostos. Com o fim de sua existência, a caçada ficará mais difícil, mas aqueles que não escutam qualquer coisa farão de tudo por manter saudáveis seus ouvidos e, de preferência, longe das rádios comerciais.
João Eduardo Colosalle
4 comentários:
Análise perfeita, simplesmente rendonda. Assino embaixo e faço minhas suas palavras.
Parabéns.
Abraços
mando bem jão
Muito bom, João. Muito bom mesmo, concordo com tudo.
Hoje temos que caçar gente "honesta" para com a música brasileira. E o triste é que o gênero musical (pois virou já é só gênero) da MPB, apesar de ter seu P denotando "popular", não é mais, de fato, popular. Ou seja, os poucos músicos que possam existir atualmente nos moldes de arte de pessoas como Chico, Caetano, Tom, perdem espaço em meio ao mercado que se faz onipresente com infinitas músicas vazias e fúteis.
A única exceção que faço, e já há um bom tempo escrevi brevemente sobre isso em meu blog, é quanto ao Seu Jorge. É do gênero MPB, é bom, honesto (pelo menos pelo meu julgamento), e faz sucesso com as pessoas, ou seja, é de fato popular (apesar de haver também algumas poucas músicas que parecem ser feitas para tocar incessantemente nas rádios). De resto, da geração atual, não me lembro de ninhuém =/
abraço
Muito muito muito bom.
Um dos textos que mais gostei de ler nos ultimos tempos.
A análise é excelente e muito verdadeira, a música atual deixa, e muito, a desejar.
Nem tenho o que dizer, acho que você realmente falou tudo.
Beijos,
Cá Reis
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