Vale mesmo?

Depois do vale-refeição e do vale-transporte, eis que a nova é o Vale-Cultura. A proposta do Ministério da Cultura faz parte da reformulação da Lei Rouanet, que prevê incentivos a empresas e indivíduos que contribuem ou financiam projetos culturais. O vale seria de 50 reais, pago pelas empresas e utilizado somente no consumo cultural.
Segundo o Ministério da Cultura, 14% da população brasileira frequenta as salas de cinema pelo menos uma vez ao mês, 92% não vai a museus, 93% nunca vai à exposições de arte e 78% nunca assiste a espetáculos de dança. O Vale-Cultura, portanto, contribuiria para um aumento estimado de 12 milhões de pessoas entre os consumidores de livros, teatro, cinema, exposições.
A proposta não pode ser criticada quanto à intenção. No entanto, o benefício será capaz de despertar o interesse por cultura no brasileiro? Acostumado a assistir às programações televisivas e a escutar músicas cujo nível de cultura é bem próximo ao zero, seria um sucesso se a proposta fosse concretizada e mudasse pelo menos uns dois dígitos dos números citados acima. É bom apontar que o incentivo à cultura não se faz somente através de medidas econômicas. Ainda há toda uma relação do modo de vida da maioria do país com os movimentos culturais. Provavelmente, o que tende a ter maior lucro são as bilheterias do cinema, a forma de cultura mais acessível e interessante à população. Agora, como uma exposição de artes plásticas ou uma mostra de música clássica podem atrair a massa que dá ibobe a programas como o Big Brother Brasil?!
Não é somente dando dinheiro.

Obs.: A imagem é do quadro mais importante já produzido no Brasil, o Abaporu, de Tarsila do Amaral.

João Eduardo Colosalle