quarta-feira, 1 de abril de 2009

Che Guevara Além da Camiseta

Que se discutam as idéias, os métodos, mas é impensável discutir o homem Ernesto Guevara. Embora alguns setores da imprensa, cuja representante brasileira é a revista VEJA, tentem desqualificar Che e, pior, incluí-lo no mesmo patamar que Adolf Hitler, Benito Mussolini e Josef Stalin, a preocupação social de um dos maiores homens da história mundial é algo admirável.
E quem diria, o cinema americano reconheceu isso e corajosamente apresenta Che, um filme de Steven Soderbergh (Onze Homens e Um Segredo e suas continuações, Traffic), com 4 horas e 28 minutos de duração que, ainda bem, foi dividido em duas “películas” ao invés de ser cortado. Mais do que isso, não teve medo de descascar as feridas que o latino cutucava, nem tentou vender o Guevara Made In USA.
A primeira é Che, que na nomeação original recebe o aposto “O Argentino”, subtítulo que poderia afastar alguns brasileiros mais fanáticos das sessões. O filme é acima de todas as expectativas, contado de uma forma atraente e, mesmo depois de 2 horas e 10, deixa a sensação de “quero mais”, tamanho o envolvimento com a história.
A metade inicial trata do início do guerrilheiro: Ernesto era um médico argentino recém chegado ao México, que faz amizade, entre outros com Raul Castro, interpretado pelo brasileiro – cujo desempenho orgulha seu país – Rodrigo Santoro. Além de uma interpretação discreta mas perfeita, o ator teve que aprender espanhol para as gravações e não fez nada feio.
Por meio de China, como era conhecido Raul, Ernesto conhece Fidel Castro, até então um exilado cubano com uma ideia louca de derrubar o ditador Fulgêncio Batista e implantar um governo comunista, prometendo, acima de tudo, uma Cuba livre do domínio norte americano, que simplesmente lucrava anualmente 3 bilhões de dólares com aquele pedacinho de território.
A condução do filme se dá por conta de uma entrevista a uma jornalista americana, durante sua visita a Nova York e em seu épico discurso nas Nações Unidas, em 1964, no qual defendeu os rumos marxistas/leninistas que Cuba tomava tendo ele como o grande cérebro do Governo, e é aplaudido de pé por boa parte dos chefes mundiais, um ano antes de deixar a ilha para tentar levar a Revolução a toda a América. Embora mostre esse discurso, a história termina antes da vitória final de 1959.
Destaque para o ator Benício Del Toro (Sin City, 21 Gramas, Vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante por Traffic), que nitidamente sentiu o personagem e fez com toda a dedicação esperada.
Esta prevista para Maio a estreia da segunda parte, que retratará os 341 dias de Che – já oficialmente conhecido assim – nas selvas da Bolívia, encerrando com sua prisão e assassinato em La Higuera (A Figueira, em Português).
Vale muito a pena acompanhar esse verdadeiro épico moderno.
Só para não passar em branco. Caso o filme tenha o sucesso imaginado, certamente irá explodir o fenômeno de venda de camisetas com a imagem de Che, considerada a fotografia mais famosa do mundo.
Ou seja, o maior líder anti-capitalista da história (ao lado de Marx, lógico) é hoje o maior movimentador do comércio de camisetas estampadas, consequentemente sendo o responsável por mover cada vez mais a máquina que ele sempre tentou destruir.
Isso sem contar nos litros de Coca Cola consumidos dentro das salas, boinas compradas dentro dos próprios Shoppings Center (os Centros das Compras) em que os cinemas se localizam.
Acredito que o velho Ernesto se revire no caixão quando vê o quando ser um mito torna o mundo ainda mais capitalista e explorador.
Mas que o filme vai muito além da imagem da camiseta, isso não tenha dúvidas.

Fotos – Em sentido horário: O discurso de Che na ONU representado no filme, a fotografia mais famosa do mundo, Benício Del Toro caracterizado de Guevara e o guerrilheiro ao lado de Raul Castro à época do Movimento Revolucionário 26 de Julho em Cuba.

Heitor Mário Freddo

3 comentários:

Francisco Valle disse...

Heitor, no socialismo marxista tbm existe o consumo de coca cola camisetas e tudo mais, porem as fabricas que os produzem serão de posse do estado, ou seja, da população com a diferença de não visar o lucro
apesar disso, o que vc flou está correto pq estão usando a imagem do Che para lucrar sem limites ... Che é para mim um dos maiores exemplos, só não concordo com seus métodos guerrilheiros, que acredito eu já não seriam os mesmos hoje em dia.

Imprensa Marrom e Cia disse...

Fran, quando citei Coca Cola foi por se tratar de um marco do capitalismo e, principalmente, porque boa parte de quem vai assistir ao filme simplesmente o faz como mera diversão.

Quanto a camiseta, refiro-me às pessoas que usam a imagem de Che Guevara no peito sem nem ao menos saber o que ele fez ou defendeu.

E muito obrigado pela lembrança.

Grande Abraço

Heitor Mário Freddo

Unknown disse...


Estava pesquisando sobre o atorzinho global que teve a imagem de Che de sua camiseta apagada na foto de uma matéria para a Veja quendo me deparei com várias coisas ntre elas a matéria abaixo.
Sob o título: " Che - Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa", segue mais um exemplo desta merda de revista que é a Veja com sua eterna capacidade de manipular a imagem de quem quizer... No final coloca a banalização da imagem e os piores exemplos de gente como fãs de Che...
Por fim e para alegrar,estas ótimas referências do filme de Steven Soderbergh sobre a vida de Che, assistirei! Obrigada!
Segue os ridículos:
http://veja.abril.com.br/031007/p_082.shtml