Em 2002, o preconceito de boa parte dos brasileiros era muito nítido e o discurso bem treinado: esse presidente semi-analfabeto vai envergonhar o Brasil. Alguns ainda falam isso, com frases como “esse sapo barbudo nunca estudou” e “não se precisa mais estudar no Brasil: o Presidente só fez até a quarta série”.Mas hoje, Luís Inácio Lula da Silva ouviu, sem dúvida, a frase mais gratificante de sua carreira, que simplesmente quebrou as pernas de todos esses pseudo-argumentos para criticar sua carreira política.
Durante a reunião do G-20, as maiores economias do Mundo, hoje na cidade de Londres, Lula participou de uma roda com líderes nacionais. Entre eles, estava o “homem que representa as esperanças da humanidade”, Barack Obama. A over nosso presidente, o americano fez um gesto forte firme para cumprimentá-lo e o apresentou da seguinte maneira:
- Esse é o cara. Adoro esse cara. Ele é o político mais popular da Terra. Isso porque ele é boa pinta”.
Lula parecia nem se tocar do que Obama estava dizendo a respeito dele. Em seguida, Lula puxa Obama pelo braço e consegue dos presentes na roda toda a atenção.
Não custa lembrar, não foi qualquer presidente americano quem disse que “Lula é o cara”, mas o maior fenômeno político da história recente mundial, o único presidente das últimas décadas a agradar quase todo o planeta e por quem, provavelmente, você tenha torcido nas últimas eleições.
Não discuto o Governo do Presidente Lula, mas está provado que o preconceito que ainda insiste em alguns setores, sobretudo na classe média, é mais do que ultrapassado contra o ex metalúrgico e líder sindical. Um presidente popular pode sim ter carisma internacional, sem a necessidade de ser um poliglota como era Fernando Henrique Cardoso, ou um bonitão como Fernando Collor.
Vejamos qual será o tratamento da imprensa brasileira ao tema. Certamente, a Revista VEJA dará um jeito de ironizar a frase, o Jornal da Globo trará Arnaldo Jabor desqualificando e desmerecendo o brasileiro, sem contar em algumas piadinhas que surgirão a partir de amanhã pela internet.
Mas que isso está marcado para a história de Lula e até da política brasileira não tenha dúvida, e só merecerá respeito aquele que argumentar do ponto de vista operacional ou ético de seu governo, porque falar da pessoa de Lula já é démodé.
Durante toda a conversa, o antigo operário teve de ser compreendido por meio de um intérprete que traduzia sua fala para o inglês, uma língua que adolescentes de 15, 16 anos de classes média e alta já sabem fluentemente e nosso presidente, com mais de 60, não sabe. Mesmo assim ele chegou lá, e mais do que isso, “é o cara”.
PS – A imagem foi captada pela BBC e está disponível com legendas em seu site.
PS 2 – A reunião do G-20 adotou um plano que injeta US$ 1 trilhão no FMI (Fundo Monetário Internacional) e no qual o Brasil faz parte, o que regula os paraísos fiscais, impondo também restrições aos salários e bonificações dos banqueiros. Lula afirmou querer entrar para a história como o primeiro presidente brasileiro a emprestar dinheiro à instituição e lembrou que já carregou faixas de "fora FMI" no Brasil.
A notícia traz duas interpretações bastante sólidas: a primeira é de orgulhar-se do Governo Brasileiro por simplesmente ter dado a volta por cima e colocado o FMI de quatro perante nossa economia. A segunda é de que o mesmo homem que orgulhosamente diz ter lutado contra o FMI agora irá emprestar dinheiro público para salvar a instituição, ou seja, legitimará e participará da exploração do Fundo aos países pobres.
Escolha a sua preferida. Eu fico com as duas.
Heitor Mário Freddo
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