
Dirigido, roteirizado e editado por Oscar Rodrigues Alves e Branco Mello – vocalista da banda – , a obra é um apanhado de cenas que tornaram os Titãs um dos maiores grupos do rock brasileiro – se não o maior. O projeto se iniciou na década de 80, quando Mello comprou uma pequena câmera VHS para registrar show, viagens, gravações e muitas, muitas loucuras – algumas regidas por drogas – que os oito geniais roqueiros viveram.
Diferentemente da maioria dos documentários, não há narração, entrevistas específicas para a obra ou algo semelhante, mas apenas as inúmeras músicas e arquivos de tevê que conduziam o espectador através de uma linha do tempo, na qual cada “período histórico” significa a gravação de um álbum.
As cenas são simplesmente impagáveis, a começar com um programa da TV Tupi – vejam só como a banda tem história – em que 3 futuros integrantes começaram a apresentar seus dotes musicais. Porém, não eram os Titãs, e sim a banda Mamão e as Mamonetes, com Tony Beloto no vocal,Branco Mello e Marcelo Fromer, acompanhados por cinco afinadinhas moças que cantavam o amor à natureza. 40 minutos depois esse “trio ternura” estava apontando o dedo na cara de nossas autoridades e gritando “Polícia para quem precisa de polícia”.
Independente de ser fã ou não, a sensação dentro do cinema é a mesma: esses caras eram muito loucos, mas tinham muita coisa para falar. Além do que já conhecemos, como as críticas ácidas ao abuso de autoridade, ao lixo de sociedade que torna a Terra um planeta de “Bichos Escrotos”, ao modelo excludente e assistencialista que reclama “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, os antigos Titãs do Iê-Iê-Iê, que lamentavam o fato de que “a televisão me deixou burro, muito burro demais” nunca se renderam a ela, mostrando ser uma espécie de modelo para os Mamonas Assassinas. Os rapazes escrachavam o playback, faziam performances das mais irreverentes possíveis. Mas as vezes também participavam do “sonho maluco do Gugu”.
A direção de um integrante em nada cria uma censura ao conteúdo. Muito pelo contrário. Tanto escândalos policiais quanto as perdas dos integrantes Arnaldo Antunes e Nando Reis – além, claro, da morte trágica do guitarrista Marcelo Fromer, são escancarados da forma mais íntima possível, por meio de depoimentos da época – ou seja, não há politicamente correto –, o que dá mais credibilidade às falas.
O público acompanha também o amadurecimento da banda, de suas músicas, mas sente que a atitude nunca se perdeu. Da formação original, quando o palco era pequeno para Arnaldo Antunes, Branco Mello, Tony Bellotto, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Paulos Miklos e Sérgio Britto – 8 integrantes, sendo 5 ótimos vocalistas – ao mais recente trabalho, “Como estão vocês”, o espírito é o mesmo, embora os intrumentos e as letras estejam mais afinadas.
Os estreantes diretores até parecem profissionais, tamanha a perfeição da condução da história, sempre empolgante. Não será fácil para qualquer outro trabalho sobre ídolos do rock superar essa verdadeira pérola.
Alguns já estão a caminho: Renato Russo, Mamonas Assassinas e Tim Maia. Que sejam pelo menos metade de Titãs – A Vida Até Parece uma Festa.
Heitor Mário Freddo
Um comentário:
Você deixou todo mundo curioso Heitor!!To querendo muito assistir, pena que poucos cinemas se animam para passar esses filmes...
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