sexta-feira, 10 de abril de 2009

Fiel - O Filme

Um judeu em plena parada militar nazista; um negro em plena reunião da Kun Klux Klan; um emo em pleno show do Iron Maiden. Foi mais ou menos assim que eu, um palmeirense apaixonado, me senti durante a exibição do documentário Fiel – O Filme, assumidamente uma produção de corinthianos para corinthianos – e a presença no cinema não me deixa mentir. Cerca de 50 pessoas estavam presentes, pelo menos 30 delas ou com a camisa de jogo ou com a tradicional Eu Nunca Vou Te Abandonar.
Por outro lado, por não me envolver com a paixão alvinegra, me considero imparcial para comentar sobre este documentário dirigido por Andrea Pasquini e com roteiro escrito por duas feras: os fiéis Serginho Groisman, apresentador e o escritor Marcelo Rubens Paiva.
A produção é divida em três partes. A primeira é feita exclusivamente para que torce para o Corinthians, as demais são um quase um documento histórico e um prato cheio para quem adora futebol.
Mas confesso que senti a tentação de sair da sala durante os primeiros 30 ou 40 minutos. Já o apaixonado pelo Sport Club Corinthians Paulista terá a sensação de estar no céu, ou nas arquibancadas do Pacaembu, o que para um Gavião significa a mesma coisa. O primeiro período do filme poderia ser chamado de “Só o corinthiano é”, pois é praticamente esse o discurso que se segue.
A partir de vários exemplos de torcedores anônimos – o que dá ao documentário mais credibilidade por mostrar corintianos de todos os tipos e fugir dos famosos que só aparecem na decisão – a equipe de filmagem tenta traduzir o sentimento de um corintiano, o esforço para se assistir um jogo de sua equipe, seja por um “burguês” que não teve tempo durante a semana para comprar seu ingresso e irá se espremer na fila, seja pelos mais pobres que atravessam a cidade apertados em ônibus que se tornar uma “geral ambulante”. A conclusão é que corinthiano já nasce corinthiano, como um sentimento inexplicável.
Depois disso, um intervalo negro e uma data mostram o que vem pela frente: 2 de dezembro de 2007. Essa segunda parte dá início há um documento histórico do que foi o rebaixamento de um dos maiores clubes do país e da tristeza de uma das maiores torcidas. O pontapé inicial são as últimas rodadas, quando jogando em casa o Corinthians obteve tropeços que o colocaram na situação que nunca nem o mais pessimista Fiel sonhava: a zona de rebaixamento.
Depois de vencer o São Paulo em pleno Morumbi – “Eu tinha certeza que depois de ganhar ‘delas’ a gente não caía mais”, relembra um dos entrevistados – tropeços em casa deixara ma situação apavorante: derrota para o Flamengo por 2 a 1 e empate com o Atlético Paranaense em 2 a 2. Em seguida, um empate heróico com o Goiás em Goiânia – com Felipe defendendo um pênalti de Paulo Baier – deu a certeza ao Fiel que seu time continuaria na Série A vencendo o Vasco da Gama no Pacaembú. Todos lembramos o que aconteceu e, em seguida, a última rodada no empate com o Grêmio de Mano Menezes e o Goiás que venceu o Internacional, com uma inacreditável repetição de cobranças de pênaltis – Paulo Baier, o maior corinthiano do mundo, errou duas vezes, ambas foram inválidas e na terceira, com um ex palmeirense o time alviverde safou-se da degola e afundou o Corinthians.
A partir daí entra a terceira fase, a volta por cima, o momento “Eu Nunca Vou Te Abandonar Porque Eu Te Amo”, que mostra uma torcida presente em todos os jogos, levando a sério cada partida e encarando um Corinthians x CRB como uma final de Libertadores (?) – eu precisava dar uma cutucada, caro leitor.
Os mesmos personagens que seguraram as lágrimas agora cotam suas emoções mais felizes, vendo a força de sua equipe, mesmo a segunda divisão do Brasileiro.
Assim como uma data em fundo negro marcou o inferno, uma outra da mesma maneira marcou a volta por cima: 25 de outubro de 2008, quando o Timão venceu o Ceará por 2 a 0 em sua casa alugada e viu o Barueri, então 5º Colocado perder em casa para o Paraná, o que significava: nada mais fará essa nação sofrer esse ano porque o Corinthians está de volta à primeira divisão.
O documentário nem chega a citar que a volta foi como campeão, já que todo clube grande que é rebaixado tem a obrigação de voltar como o primeiro disparado e atropelando todos que estejam em sua frente – casos de Palmeiras, Grêmio, Atlético Mineiro, do próprio Corinthians e que deverá ser seguido em 2009 pelo Vasco da Gama. Mas a emoção de mostra sua grandeza e o alívio de acabar seu calvário são muito bem retratados.
Uma frase de um dos maiores seguidores do clube no filme resume o que cada corinthiano passou. “No dia 2 de dezembro, às 18h20, eu dormi e só acordei do pior pesadelo no dia 25 de outubro, às 18h10”. Essa é a Fiel, uma torcida maior que seu time e que se orgulha disso.
E isso é Fiel – O Filme, um documentário feito de corinthiano para corinthiano, mas com paciência e ficando bem quietinho no seu canto, um registro para quem ama o futebol.

Heitor Mário Freddo

5 comentários:

Imprensa Marrom e Cia disse...

Só para efeito de informação e caso haja alguma dúvida: o filme estreou ontem (quinta) em circuito nacional e está em cartaz em Jundiaí no Moviecom 3 em duas sessões: às 15h30 e às 19h40.

Heitor Mário Freddo

Francisco Valle disse...

Heitor...O primeiro paragrafo ficou mtu bom.
acho que me sentiria do mesmo jeito se estivesse vendo um filme que não fosse do corinthians.
Agora encarar um Corinthians x Crb como final de libertadores é natural do corinthiano, para nós o importante é ver o time jogar, claro que titulo tem importância, mas para a maioria dos corinthianos isso está em segundo plano, desde que o corinthians esteja em campo.
Diferente de muitas torcidas do futebol.

Heitor Mário disse...

Esse ponto foi bastante falado no filme mesmo.

É que eu não poderia deixar de lembrar que o Corinthians não conhece esse sabor de uma final de Libertadores...

Hahaha

Sem ressentimentos...

Hahahaha

Abraços

E aamnhã é dia de Palpitão no Imprensa MArrom & Cia!!

Rafael Porcari disse...

Ahahahah... muito bom sua ida ao cinema! Realmente deve ter sido sufocante você ficar lá. Da próxima vez, vamos juntos; eu de árbitro e vc de camisa da Mancha Verde! E vamos deixar uma viatura do Resgate nos esperando... Parabéns pelo post, está ótimo, principalmente no início!

Unknown disse...

Heitor, parabéns pelo texto! Gostei demais!! Eu, corinthiana roxa quase chorei lendo... me deixou com mais vontade ainda de correr pro cinema para prestigiar o timão!!!

arrasou!!

bjOK!