quinta-feira, 9 de abril de 2009

Jornalismo de Varanda

O Ministério da Justiça deverá mudar nos próximos dias o caráter do Programa TV Fama, programa de fofocas apresentado por Nelson Rubens, um dos “ícones” na informação sobre a vida das “celebridades”, pela atriz Adriana Lessa e pela ex BBB Íris Stefanelli.
A intenção é classificar o programa exibido pela RedeTV! como inadequado para menores de 12 anos. Isso significa dizer que o TV Fama deixará de ter status de Programa Jornalístico.
Esse é o ponto principal da informação: o TV Fama é oficialmente considerado como Telejornal. Isso significa dizer que até então, o seu conteúdo era livre – nenhum produto jornalístico pode ser classificado por faixa etária – e que todos os boatos soltos, todas as fofocas feitas a respeito da privacidade das pessoas famosas, eram respondidos dentro das mesmas leis dos produtos sérios. O mesmo argumento que a VEJA utiliza para criticar o Governo Lula, ou em que a Caros Amigos publica denuncias graves, a de liberdade de expressão e veiculação das suas edições, era utilizada pela equipe de Nelson Rubens para matérias do estilo “Boato diz que Fulano de Malhação é gay”, ou “Flagra! Ex BBB é visto jantando com Fulana da novela em restaurante italiano”.
O momento atual é de união de uma boa parte dos jornalistas, mas principalmente dos estudantes/candidatos a jornalistas, em defesa da obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão. O exemplo acima parece um bom argumento para essa corrente, mas pode ser vista de outra maneira. Um dos quadros dessa verdadeira baboseira televisiva é o “Réporter Especial”, em que famosos viram repórteres por um dia para o TV Fama.
O programa sairá do status de jornalismo, mas as práticas continuarão a mesma, o horário de exibição o mesmo e o padrão também, incluindo matérias e entrevistas. Correntes de jornalistas e candidatos a jornalistas defendem atualmente a obrigatoriedade do diploma para que se exerça a profissão.
Pois o TV Fama acabou de se livrar desse problema e ensinar o caminho das pedras a outros exemplos: basta sair do status de jornalismo, receber uma censura irrisória que em nada afetará seu público nem horário de exibição e pronto. Qualquer pessoa continuará fazendo o mesmo “jornalismo” de Nelson Rubens e Íris Stefanelli. É um “jornalismo de varanda”, aquele em que pessoas utilizam o microfone ou as páginas de revistas como Caras e Contigo para fazer os mesmos “bafafás” das varandas, a fofoca entre donas de casa muito comum em cidades do interior. É o “falar da vida dos outros” dentro de um horário nobre em rede nacional.
Mais importante do que diploma ou a proibição de que “aquele que não fez os quatro caríssimos anos de faculdade possa trabalhar em um órgão de comunicação” é batalharmos por uma melhora no conteúdo, sem que haja censura, logicamente. A união pelo diploma é justa, mas seria muito mais digno os jornalistas se unirem pela conscientização do público brasileiro. Antes de defender seu próprio “patrimônio”, o jornalista precisa se unir também para desalienar o telespectador.

Fotos – os exemplo acima, com suas respectivas legendas, falam por si só. Esse programa ainda é considerado jornalismo, e mesmo que não o seja mais, continuará no ar. A má qualidade da imprensa continuará, com ou sem diploma. Abaixo, a lista com as maiores audiências da programação de péssima qualidade da RedeTV!

Heitor Mário Freddo

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