domingo, 12 de abril de 2009

Vasco da Gama se aprende na escola

A administração de Eurico Miranda, o verdadeiro dono do Vasco da Gama de 1980 até 2008, sem dúvidas entrou para a história como uma das mais vergonhosas da história do futebol brasileiro: CPI do Futebol investigando suas inúmeras irregularidades, abuso de poder, manipulação de resultados eleitorais, contratações e salários com preços astronômicos e mais inúmeros exemplos que colocam Eurico como um dos maiores demônios brasileiros dentro desse esporte.
Mas assim como “nem tudo o que reluz é ouro”, nem toda carniça é mal cheirosa. O ex presidente vascaíno fez uma das obras sociais mais dignas do nosso esporte e que, no entanto, nunca foi sequer citada pela imprensa, que parece só ter-lhe tomado conhecimento após a posse de Roberto Dinamite.
Desde 2004, o clube carioca possui no Estádio São Januário o Colégio Vasco da Gama [foto], uma instituição de ensino que forma os atletas do Clube de Regatas Vasco da Gama, a maioria de origem pobre e sem instrução. Anualmente, atletas das categorias de base da equipe de futebol e mais jovens atletas de remo, basquete e atletismo formas classes de ensino fundamental e médio e só continuam treinando no “cruzmaltino” se concluírem seus cursos.
O projeto começou com 80 garotos e atualmente forma 240 atletas.
Dois jogadores do atual elenco vascaíno passaram pela experiência: os atacantes Alex Teixeira e Alan Kardec. Alex conclui a 8ª Série e formou-se no Ensino Médio em 2007.
“A escola era puxada, eu ficava depois da aula fazendo reforço de matemática. Se a gente faltar à toa, é punido, passa uma semana fazendo treino físico. Mas vale a pena. Teve festão quando me formei, vieram meus pais, meu irmão, minhas tias da Bahia”, afirmou o candidato a ídolo vascaíno em entrevista à Revista PLACAR do mês de março.
Outro aspecto: quantos jogadores não vemos em campo e pensamos “Fulano, vai tentar fazer outra coisa da vida”. Pois o Colégio Vasco da Gama conseguiu se livrar de alguns – ou dar-lhes um futuro melhor, como queiram. É o caso de João Marcos, então juvenil do clube, que no ano passado deixou o futebol para dedicar-se aos estudos e foi aprovado em 26º lugar no curso de educação física da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – deixando certamente para trás jovens de classes altas e que sempre estudaram em instituições privadas.
Outro caso curioso é o de Phillippe Coutinho, jogador de 17 anos que, mesmo integrado ao elenco profissional pelo técnico Dorival Júnior, ainda é aluno do terceiro colegial e tem de fazer milagre para treinar e se formar.
Não faço aqui o papel do “advogado do diabo/Eurico”, mas que ele merece esse reconhecimento, não há dúvida nenhuma. E é importante para alguém que entre em São Januário aprender que Vasco da Gama é mais que o nome de seu time. E que a “Crise Série B” não coloque Roberto Dinamite como o “afundador” do Colégio.

Heitor Mário Freddo

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