Até que ponto pode chegar a popularidade do nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Não sei, mas parece que ele está disposto a testá-la.A manchete da Folha de S. Paulo de hoje destaca: “Lula vê ‘hipocrisia’ no debate sobre passagens”. No Estadão, destaque de capa escreve: “Lula revela que deu passagens quando era deputado”. E em todos os outros veículos de do país essa informação é destacada.
O presidente afirmou que, durante seu mandato como deputado federal [de 1986 a 1990, a maior votação para a Câmara Federal até então], utilizava com frequencia parte de sua cota de passagens aéreas para levar sindicalistas a Brasília.
"Não acho crime deputado dar passagem para o dirigente sindical ir a Brasília. Eu, quando era deputado em Brasília, muitas vezes convoquei dirigentes da CUT e de outras centrais para se reunirem [lá] com passagens no meu gabinete", disse Lula.
Depois, completou.
"Existe uma hipocrisia muito grande nessa história da Câmara. Sempre foi assim. Não vejo onde está o tamanho do crime em levar a mulher ou o sindicalista para Brasília”.
Essa defesa parece estratégica. Lula é hoje a figura mais popular do país e a única com carisma entre todas as classes sociais suficiente para tentar reverter a imagem arranhada do Congresso.
Admitir que já fez parte disso é uma forma de mostrar a seus admiradores que o que nós vemos hoje não é nenhum escândalo e, pior, é legítimo. A intenção pode ser de fazer os 80% dos brasileiros que o aprovam pensarem: “se até o Lula fez é porque não é ilegal mesmo”.
Mas é óbvio que não é assim. A fala do presidente foi corajosa e de grande valia aos seus colegas, mas que só traz aspectos negativos à própria imagem.
Afirmar que “sempre se fez” é legitimar que o errado, se praticado com freqüência, torna-se tão comum que ninguém mais se preocupará com isso. Parece essa a intenção de Lula com as afirmações: colocar na cabeça do povo que esse é um “roubinho pequeno”.
Aos políticos que adoram criticar o trabalho da imprensa, alegando que ela só foca os aspectos negativos de seus trabalhos, Lula deu a resposta perfeita: são eles mesmos quem pautam as redações e fazem questão de aparecer pelo lado negativo nas manchetes do país.
A imprensa só divulga o que eles não fizeram muita questão de esconder.
Foto - Lula como depuado federal na Assembléia Nacional Constituinte, em 1988.
Heitor Mário Freddo
Heitor Mário Freddo
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