sexta-feira, 1 de maio de 2009

Companheiros

Hoje comemoramos o Dia do Trabalhador, uma data importante na história das lutas pelos direitos das classes. A data não foi escolhida à toa e não é apenas “mais um dos inúmeros feriados no Brasil”, como parte da população brasileira insiste em dizer.
As lutas dos trabalhadores organizados começaram em 1º de maio de 1886 quando, em Chicago, nos Estados Unidos, um grupo de operários saiu às ruas com milhares de insatisfeitos, dando início a uma greve geral no país. Eles protestavam por uma jornada de trabalho de 8 horas diárias. Três dias depois, em 4 de maio, numa continuidade dos protestos, a passeata pacífica se tornou em uma grande tragédia: uma bomba estourou junto ao local onde policiais estavam posicionados, matando um e ferindo outros 7 que morreram mais tarde.
A polícia imediatamente abriu fogo contra os manifestantes, ferindo dezenas e matando onze. Os oito organizadores da manifestação, militantes anarquistas, foram presos e incriminados pelo acontecimento, mesmo na ausência de evidências que os conectassem com o lançamento da bomba.
Três anos depois, a segunda Internacional Socialista – organização mundial que reunia os partidos de esquerda de vários países – decidiu que todos os anos haveriam protestos pela redução da jornada de trabalho, até que os direitos dos trabalhadores fossem adquiridos. A data escolhida era 1ºe maio.
No Brasil, com o início da industrialização, grupos anarquistas e, mais tarde, comunistas, promoviam manifestações nessa data. Até que Getúlio Vargas chega ao poder em 1930 e, numa manobra populista mas de interesse corporativista, institui 1º de Maio como “o Dia do Trabalhador”.
Aparentemente parece uma conquista, mas a mudança era estratégica e reflete, inclusive, o presente da data. Antes de Vargas, o “Dia das lutas dos trabalhadores” era marcado com passeatas de milhares de trabalhadores insatisfeitos e cientes de seus direitos, com passeatas e grandes comícios.
Ao tornar-se uma data oficial, transformou-se em data para comemoração, com festas, shows e sorteio de prêmios.
Esse modelo teve períodos de mudanças, principalmente à época da Ditadura Militar e o fortalecimento dos movimentos sindicais – Greves do ABC nos anos de 78, 80 e 81 e o fortalecimento da CUT – Central Única dos Trabalhadores.
Mas a democracia chegou, e junto com ela a Força Sindical, numa tentativa da direita/elite brasileira abafar o sucesso da CUT e de seu aliado político, o Partido dos Trabalhadores.
Com um discurso neoliberal que pregava o bom relacionamento d otrabalhador ao então presidente Collor, a Força foi ganhando seu espaço nesse cenário, sempre aliada a partidos políticos como o PTB e o PDT.
Esse é o fator chave para o que vemos hoje no Primeiro de Maio. Em São Paulo, a Força Sindical, hoje presidida pelo Deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), o Paulinho da Força, um dos envolvidos na Operação Santa Teresa, que investigou desvios do BNDES, realiza um mega evento com expectativa de 1,5 milhão de pessoas.
Haverá shows com artistas renomados na música brasileira e de grande popularidade, como Daniel, Leonardo, Banda Calypso, Jeito Moleque, Bruno e Marrone, Exaltasamba, Padre Marcelo Rossi e Zezé Di Camargo e Luciano. Mais do que isso, sorteio de 20 carros Celta 0km.
Mas, para não perder o caráter histórico, um ato política também ocorrerá. O interessante são as pessoas envolvidas. Além dos integrantes dos partidos de base da Força, como PDT e PTB, o Governo Federal, cuja partido base é o PT, aliado eterno da CUT e inimigo da Força, estará presente. Primeiro, com seu Ministro do Trabalho, Carlos Lupi – que é do partido de Paulinho. Depois, com o próprio Presidente Lula, por meio de um telão.
Do outro lado, a CUT também fará sua festa nos mesmos moldes. E a principal presença no ato político é o Prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, membro do Democratas, o partido que sucedeu o PFL e que é a moradia dos defensores do regime militar e extrema direita no período democrático.
Vamos tentar entender: a central que nasceu do PT para combater a “elite dominante” e sua exploração vai receber um prefeito do partido que é destacadamente defensor desse grupo.
Já a outra central, que nasceu como resposta aos “barbudos do ABC” receberá o PT em seu circo. Parece que alguma coisa está fora da ordem.

Heitor Mário Freddo

Um comentário:

Eric Rocha disse...

Excelente texto, Heitor. Muito bom mesmo. Parabéns