domingo, 1 de fevereiro de 2009

Cutucando a Itália com vara curta


Janeiro parece o mês que as autoridades brasileiras decidiram utilizar para comprar briga com a Itália, parceira histórica do país, além de ser a terra de origem de milhares de nossas famílias. E não foi apenas na discussão sobre “soberania de estado” e divergências políticas, mas também no futebol (que todos sabemos não ser apenas uma diversão em nenhuma das duas pátrias).
Comecemos pelo mais sério e importante. No último dia 14, o Ministro da Justiça do Brasil Tarso Genro concedeu status de refugiado político ao escritor e ativista italiano Cesare Battisti, participante do grupo armado “Proletários Armados pelo Comunismo” nos anos 70, e acusado por quatro assassinatos, seja como autor, cúmplice ou organizador. Desde então, vive clandestinamente em vários países, chegando em apenas a deixar essa posição, quando o presidente francês François Miterrand concedeu asilo político a todos os militantes que abandonassem a luta armada e negou sua extradição à Itália. Quatorze anos depois, quando Cesare já era um escritor policial conhecido e mantinha uma vida estável em Paris, a Itália refez o pedido de extradição à França, dessa vez concedida pelo então Ministro dos Interiores Nicolas Sarkozy (atual presidente).
Em 2006, seu destino é o Brasil, onde um ano depois é encontrado pelas autoridades no Rio de janeiro. A Itália desde então pressionou nosso Governo para que fosse extraditado, porém a Constituição Nacional – feita pós-ditadura – proíbe que o país extradite presos políticos.
Embora muita gente tente tornar o debate um mero conflito entre esquerda e direita, o tema é muito mais complexo para ser resumido a isso. A prova é que o governo de Romano Prodi (antecedente de Sílvio Berlusconi no mandato atual) era de esquerda, tendo em sua base dois partidos comunistas, e comemorou a prisão de Battisti por considerá-lo terrorista. Os defensores do ativista usam em sua tese que ele é vítima da “Caça às Bruxas” da direita italiana, sendo seu julgamento baseado em delações premiadas e suposições.
Ambos os lados têm força em seus argumentos, sendo apenas uma minoria que tenta politizar o caso: a Direita afirmando que “militares/ditadores condenados por crimes continuam presos” e a esquerda afirmando que “o que querem é manipular a situação e legitimar o atual governo fascista italiano”. Nem uma coisa nem outra.
O fato é que Tarso Genro agiu por conta própria, passando por cima de diplomacias, entendimentos políticos e o risco dessa atitude pessoal tornar-se um fim do bom relacionamento com a Itália. E embora todos já tenham o defendido, o argumento é bom: quando dois pugilistas cubanos pediram asilo político ao Brasil para fugirem da ditadura de Fidel Castro, o governo não aceitou e encaminhou-os imediatamente de volta á Ilha. Dois pesos e duas medidas.
O segundo caso envolve, por ironia do destino, a convocação para o amistoso contra a seleção da Itália no dia 10 de fevereiro, em Londres. Há pelo menos um ano a Juventus de Turim e a Confederação Italiana de Futebol negociam para que o atacante brasileiro Amauri, artilheiro e ídolo da equipe, seja nacionalizado italiano e possa com isso vestir a camisa da Azzurra. Para isso, o jogador – que nunca encheu os olhos de dirigentes brasileiros – não poderia ter em seu currículo nenhuma convocação para a seleção de seu país de origem, como determina a Fifa para suas competições.
Pois bem. Feita a convocação para esse amistoso, o atacante Luis Fabiano teve de ser cortado por contusão e quem o técnico Dunga convocou? Ele mesmo, Amauri, que será apenas um “fazedor de número” no banco de reservas.
Para a posição, Dinga já conta – além de Luis Fabiano – com Adriano, Alexandre Pato, Robinho, Afonso, e mais um monte de nomes que já merecem ser convocados, como Kléber Pereira, Kléber, Nilmar e até Obina. Mas a CBF fez questão de evitar que um de seus produtos fosse dar títulos a concorrentes. Sinceramente acredito que Amauri não terá mais que 3 convocações, sendo desnecessário prendê-lo desta forma.
Ambos os casos podem ser resumidos com uma única pergunta: o que o Brasil ganha com isso?


Heitor Mário Freddo

4 comentários:

Francisco Valle disse...

Muito bom o texto e a relação estabelecida nele

mas obina na seleção é forçar um pouquinho eim Heitor

Heitor Mário disse...

Hahahaha

Mas vai tentar convencer a torcida do Flamengo de que ele é groso...

Hahahaha

Obrigado pela bondade

Grande abraço

Imprensa Marrom e Cia disse...

O Brasil tá apelando, vmaos ver no que isso vai dar.
Os tempos não são propicios a inimizades, sejam elas na politica ou até mesmo no futebol.

Beijos,
Cá Reis

Anônimo disse...

É pura pirraça do Dunga. No momento em que estão tão estremecidas as relações diplomáticas entre os dois países, não convocá-lo e depois convocá-lo às pressas é de uma inabilidade impressionante.