quinta-feira, 12 de março de 2009

Ninguém quer Ovo de Pata

A disputa pelo cargo de “candidato a presidente” dentro do PSDB continua cada vez mais polêmica.
O Governador de Minas Gerais Aécio Neves, hoje o nome com menores possibilidades e menor aceitação interna, fez duras críticas à direção de seu partido, alegando um favorecimento ao seu concorrente, o Governador de São Paulo José Serra. Para Aécio, tudo conspira a favor do “companheiro”.
“Um projeto para o País não pode ser discutido em gabinetes da Avenida Paulista”, alfinetou o mineiro. Ocorre que historicamente é assim. Desde sua fundação 1988, através de peemedebistas de São Paulo que nunca aceitaram as ideias do então governador Orestes Quércia, são os representantes desse estado que concorrem à vaga no Palácio do Planalto: Mário Covas em 1989, Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, José Serra em 2002 e Geraldo Alckmin em 2006.
A atitude deixa os tucanos que voam em outros céus extremamente revoltados, sentindo que a posição geográfica os desfavorece, como é o caso do senador amazonense Arthur Virgílio e o cearense Tasso Jereissati. A proposta seria, portanto, uma disputa interna para saber quem os filiados – e não somente o alto clero – escolheria para representar o projeto do partido.
Do outro lado, o governador paulista declarou em um evento no Palácio dos Bandeirantes, no qual apresentaria suas novas medidas para a área social, que não irá comentar sobre a disputa de bastidores, mas não perdeu a oportunidade de ironizar as atitudes do governo Lula. Após reclamar que “gostaria de fazer mais propaganda de sua política”, Serra alfinetou o presidente.
“Não tem mais propaganda porque custa dinheiro. E porque a gente não tem o talento mercadológico do governo Federal”, esquecendo-se de acrescentar que ele frequentemente reúne-se com prefeitos de cidades do interior do Estado numa tentativa clara de garantir a militância em seu território. Depois, o ex prefeito da Capital utilizou-se de uma metáfora, digamos, nada inteligente para a comparação.
“A galinha põe o ovo pequenininho, mas cacareja e todo mundo vê. A pata põe o ovo grande, mas fica quietinha e ninguém nota. A gente está mais para o lado da pata que da galinha”.
Vale lembrar ao governador que o ovo de galinha é extremamente mais conhecido, consumido e admirado pela população – ou alguém já encontrou ovos de pata no supermercado? De forma metafórica, como Serra fez, sendo pata – adjetivo para pessoas inexpressivas – o PSDB simplesmente será devorado pela cacarejo petista.
Isso porque o Governo tem em sua granja um “ovinho de codorna” chamado Dilma Rousseff, uma ministra que sempre fez parte do “lado b” da equipe de ministros de Lula, e que nunca foi sequer citada para disputar qualquer cargo eletivo, até os escândalos que derrubaram seu o alto escalão. Hoje o presidente “canta de galo” todos os dias na televisão ao lado de seu novo produto, tentando passar a ela parte de sua popularidade para manter as cercas como estão dentro da Granja do Torto.
Enquanto isso, o tão falado ovo de tucano continua quieto, com grandes possibilidades de ficar choco e passar do ponto. Em outras palavras, a indefinição, misturada a uma falta de plano concreto de governo – algo que Dilma herdará de seu padrinho – fazem o PSDB perder forças antes mesmo da rinha se iniciar.
Se bem trabalhada, a campanha Serra tem tudo para sair vitoriosa com ampla vantagem: um candidato sem rejeição, cujas péssimas administrações sempre foram encobertas ou disfarçadas pela imprensa paulista – sobretudo nos quesitos educação e segurança – e que, mesmo após escândalos como o dos “sangue sugas”, jamais teve sua reputação abalada. Por conta de seu trabalho no Ministério da Saúde – mais precisamente pelos genéricos –, sua popularidade é também bastante considerável.
Mais do que propaganda, o PSDB precisa definir-se e apresentar propostas concretas para os próximos quatro anos, algo que, bem ou mal, Dilma já faz, sempre correndo no vácuo de Lula. Caso contrário, de nada adiantará ter tantos candidatos fortes e perder para uma ilustre desconhecida.
A Galinha dos Ovos de Ouro dará um mero ovo de pato, aquele que as pessoas até sabem que existe, mas nunca ouviu ninguém falar que experimentou e gostou.

Heitor Mário Freddo

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