
Não entrarei no mérito do funcionamento interno da igreja, nem de seus cultos – seu site tem a TV Ao Vivo e mostra que os cultos seguem a linha música-depoimentos-volume alto de voz –, mas algo precisa ser destacado.
A lei exige que pelo menos 468.090 eleitores declarem apoio ao partido, seja nas urnas – o que equivale a 0,5% dos votos para a Câmara – ou por assinaturas. Conquistados, a legenda será oficializada e poderá concorrer a cargos eletivos, tendo direito a tempo de rádio e televisão e dinheiro federal do fundo partidário – variáveis de acordo com o número de representantes no Congresso.
Até o momento, foram colhidas 185 mil assinaturas, ainda 5 meses para obter o registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tempo de concorrer nas eleições de 2010.
Ou seja, há uma facilitação para que vários grupos sejam representados por partidos que defendam seus interesses, algo muito interessante se não soubéssemos as intenções da maioria de seus líderes. Governo e Congresso tentam retomar o debate sobre a reforma política, cujas votações foram fracassadas em todas suas tentativas por conta de “representantes da minoria”.
Um dos mais influentes é o deputado pernambucano Silvio Costa, do Partido da Mobilização Nacional (PMN, sigla 33, cujo símbolo é o triângulo da bandeira de Minas gerais), que apresentou projeto para diminuir ainda mais as exigências legais e retomar o instituto do partido provisório, aquele que só aparece para fazer número em coligações – e cujos donos de siglas sempre tiram proveito financeiramente.
O Partido da Justiça Social será o 28° do país. Seu presidente será o deputado distrital Júnior Brunelli (DEM), de 38 anos, filho do fundador da igreja Casa de Bênçãos Doriel de Oliveira, que já garantiu conversar com líderes políticos caso não consiga todas as assinaturas. A instituição tem 3.040 igrejas e 1,1 milhão de fiéis no País, ou seja, em um mês de campanha interna o objetivo será alcançado. Apesar do número, sua representação ainda é irrisória perante à religiosidade nacional. Caso dê certo, poderá iniciar uma explosão de novas legendas com grupos ainda mais fortes.
Isso sem contar na pressão que pode ocorrer sobre os fiéis, sentindo-se traidores caso não elejam algum pastor, deixando o voto cada vez mais restrito dentro dos templos e de seus apoiadores.
Outro ponto: quanto mais poderosos grupos religiosos se tornarem, maior o medo das autoridades serem justas e rigorosas na fiscalização a possíveis aproveitadores – algo muito comum no meio. Vide Edir Macedo, TV Record e Igreja Universal.
Alguns podem até ver o fato como o “fortalecimento dos evamgélicos”, que terão mais uma legenda exclusivamente suas – o Partido Republicano Brasileiro (PRB) é formado pela cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus e o Partido da República (PR) tem, tradicionalmente, pastores compondo todas suas bancadas. Mas acredito que a sigla será apenas mais um componente da sopa de letrinhas partidária.
Heitor Mário Freddo
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