domingo, 29 de março de 2009

Tropa de Choque sim. Tropa de Elite jamais

O Estado de São Paulo tem, desde a semana passada, um novo e diferente representante na Câmara Federal. Com a morte do estilista Clodovil Hernandes, a vaga foi ocupada pelo Coronel Jairo Paes de Lira [foto], do PTC, partido que elegeu o apresentador e teve direito a reaver a cadeira, mesmo depois de Clodovil trocá-lo pelo PR.
O primeiro aspecto a ser analisado é a proporcionalidade: Clodovil obteve 493 mil votos, o que daria o direito ao PTC – Partido Trabalhista Cristão, presidido pelo folclórico Ciro Moura – obter duas vagas, a dele e de seu segundo mais votado, no caso, o coronel da Polícia Militar com 7 mil votos. Por uma brecha da lei, os partidos maiores conseguiram reverter o quadro.
Mas agora, de fato, a vaga é do partido e de seu sucessor natural, um homem que, com esses números, não se elegeria, por exemplo, vereador em Campinas, agora representa o maior estado do País na Câmara dos Deputados.
Mas como isso é Lei e embora errada temos que segui-la, vamos ao segundo passo: a ideologia do nosso representante.
Com 35 anos de serviços prestados à PM, o ex-comendante do 3º Batalhão de Choque e do Policiamento Metropolitano da Capital já chegou como o Choque, fazendo barulho e “descendo a borracha”. Segundo ele, que confessou nunca ter matado ninguém mas que utiliza naturalmente a força bruta, afirmou que “o Estado moderno não pode abrir mão de utilizar a força”, defendendo todo e qualquer ato de abuso do poder por parte dos policiais.
Ele também não teve medo de defender sua ideologia, que orgulhosamente chama de conservadora: defende “filosoficamente” a pena de morte (permite ao Estado tirar a vida de uma pessoa), abomina o aborto (não permite à mãe tirar a vida de um feto) e posiciona-se contra a união civil entre homossexuais, a principal bandeira que Clodovil e seus 493 mil eleitores defendiam. Esse perfil foi descrito pelo próprio Coronel Paes de Lira em entrevista ao Jornal de Jundiaí deste domingo.
O novo deputado é casado há 28 anos, tem três filhos, possui nível superior cursado na Academia do Barro Branco – a mesma que mais tarde comandou – e pós graduação na Universidade Mackenzie.
Como ele mesmo citou, sua vaga foi conseguida aos “10 minutos do segundo tempo”, mas ele ocupará os trabalhos de um deputado inoperante, que prometeu em seu discurso televisivo que “Brasília nunca mais seria a mesma”. Em seu primeiro discurso, Clodovil causou polêmica, criticou a atitude dos colegas que nunca respeitam quem ocupa a Tribuna, mas o respeitaram. Depois disso, só utilizou o Plenário para fazer ataques pessoais, defender sua vaga quando desobedeceu a Fidelidade Partidária e aparecer na mídia por conta da reforma em seu gabinete – que não será ocupado pelo Deputado Linha Dura.
Essa é a chance dele aproveitar seus minutos de fama, porque em 2010 duvido muito que ele se reeleja. Até porque, se ele conseguir triplicar os votos conseguidos, ainda assim, não fará nem cócegas.

PS – Talvez a única beneficiada com a chegada do Coronel à Câmara seja a cidade de Jundiaí. Jairo Paes de Lima morou na cidade durante sua adolescência – dos 12 aos 16 anos, cursou o ginásio (atual Fundamental 2) no GEVA e defendeu a cidade como jogador de xadrez nos Jogos Regionais e Jogos Abertos. Pela proximidade pessoal, prometeu que conversaria com o assessor especial da Prefeitura Jamil Giacomello, seu amigo pessoal, para conseguir repasse Federal ao Município. Agora Jundiaí, que conseguiu ficar sem eleger nenhum deputado em 2006, poderá ter um representante.
Óbvio que ele não faz isso por amor à cidade, mas porque se ele conseguir esse feito, a campanha no ano que vem será toda concentrada em nossa cidade. Como bom enxadrista, o Coronel sabe muito bem montar suas estratégias de vitória.

Heitor Mário Freddo

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