Se perdemos o rumo, eu não sei, mas o ser humano sempre se mete em caminhos obscuros, numa completa falta de orientação, que o leva a cometer atos bárbaros, imorais, degradantes. E é o que muitas vezes me diz as capas dos jornais. A que ponto chegamos para termos de conviver com barbáries como o abuso de uma menina de quatro anos em Americana, ou um bebê arrastado por marginais em um assalto em Maceió (e aqui muitos se lembrarão do menino João Hélio, também arrastado, há alguns anos, no Rio de Janeiro, mas sem ter sobrevivido), além das inúmeras peripécias ilegais de vários de nossos políticos?
Talvez não nos influencie um desvio de verba pública de um prefeito no interior do Nordeste, mas, certamente, algum pai pode deixar de colocar um prato de comida para seus filhos pelo fato de o sagrado dinheiro com o qual ele conta todo mês não ter chegado em suas mãos, mas sim, ter alimentado a ganância e a ambição do homem que manda naquela cidade. A corrupção não afeta só os cofres de Brasília.
Há duas semanas tive minha casa furtada por algum ladrãozinho ousado. A sensação pós-furto é só uma: revolta. Há também, um sentimento de impotência, de nada poder fazer para evitar que sejamos mais uma entre as muitas vítimas diárias. No entanto, o furto me serviu para perceber algo: somente quando presenciamos e somos feridos por algum ato deste tipo é que realmente conseguimos sentir o que outras vítimas também tendem a sentir.
Esta discussão, que há muito parece batida e clichê, necessita estar sempre em pauta. Aonde iremos parar se nos restringimos a uma comoção mínima, desprovida de qualquer reação ou opinião? Temos de nos questionarmos sobre o que nos leva a tratar a violência de uma maneira tão banal como temos tratado, o que nos faz perpetuar as farras dos homens do poder e da lei (consequências de nossos votos). Estamos encerrados de uma forma tão excessivamente individualista em nossas vidas que muitas vezes nos esquecemos que formamos uma sociedade, na qual o papel de todos se converge para que se alcance o bom funcionamento desta.
Em resumo, nos falta uma dose de empatia, conscientização e mobilização, algo em que acreditamos e que nos seja possível. É característica marcante do povo brasileiro a mania de "se deixar levar", pois isso é o que permite um país letárgico e uma sociedade alienada, talvez interessada em se resolver, mas sem os mecanismos corretos de lutar por um país onde somos escravos de assaltantes, estupradores e políticos aproveitadores.
João Eduardo Colosalle
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Deixar levar?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Simplesmete perfeito.
PARABÉNS!!
Merece até aplausos.
Postar um comentário