sábado, 4 de abril de 2009

A Mordomia Parlamentar

Continuamos a sessão “vejam os abusos dos nossos representantes”. Dessa vez é em relação aos senadores, em uma matéria divulgada pela Folha de S. Paulo neste sábado.
O Senado Federal gasta anualmente R$ 30 milhões nos serviços gráficos feitos pela Secretaria Especial de Editoração e Publicações, conhecida como "gráfica do Senado". O gasto já fixado em orçamento e deveria ser utilizado para impressão dos projetos de lei. Mas não é bem assim.
A maior parte dos trabalhos da empresa, que, vale lembrar, é pago pelos brasileiros, fica restrita a impressões de promoção pessoal de cada senador, com livretos que contam sua trajetória política e pessoal para serem distribuídos em época de campanha, propagandas de seus trabalhos e suas causas sociais e até os momentos em que apareceu na TV.
Cada senador tem uma cota anual de R$ 8.500 para usar os serviços da gráfica. Mas, na prática, conseguem serviços que custariam muito mais no setor privado, já que o preço da “gráfica do Senado” é mais baixo. Ou seja, nós pagamos 30 milhões de reais por ano para imprimirmos material de campanha ou outras coisas pessoais dos senadores.
O exemplo prático não poderia vir de outra família. O senador ACM Júnior (DEM-BA) [foto] usou a gráfica para publicar o livro "ACM: Uma História de Amor à Bahia e ao Brasil", em homenagem a seu pai, o senador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Numa gráfica privada, 10 mil exemplares da obra, em papel couchet, brilhante, sairia por R$ 26.700, segundo apurou a Folha.
Pode parecer uma bobagem, mas isso é uma questão relevante sim. Todos os anos o Governo Federal estipula uma meta de cortes de gastos, e nunca são colocados em pauta os gastos absurdos do Legislativo. Além de 30 milhões para impressão – que comprariam 5 milhões de livros didáticos –, a Câmara dos Deputados, por exemplo, paga auxílio terno, para nossos nobres deputados sempre andarem na moda, e um preço absurdo no auxílio viagem.
Cada deputado custa por mês R$ 102,3 mil entre salários e verbas de gabinete. As verbas indenizatórias, por exemplo, tão em pauta pelo mau uso do deputado/lorde Edmar Moreira (sem partido-MG) custam R$ 15 mil para que cada parlamentar cubra hospedagem, combustível e consultorias e mais R$ 3 mil de auxílio-moradia. Como quase todos têm moradia própria em Brasília, o dinheiro não precisaria ser repassado a todos. Mas para que não ajudar o pobrezinho.
Ainda achou pouco abuso de poder? Pois vamos então a outra informação. O diretor da Secretaria de Telecomunicações do Senado, Carlos Roberto Muniz, preparava um dossiê com os gastos dos parlamentares com telefone – pagos pelo povo brasileiro – que seria publicado no jornal Correio Braziliense. O que aconteceu com ele? Já está encaminhado o seu afastamento. Muniz é responsável por administrar o setor de telecomunicações do Senado, que possui um Orçamento estimado em R$ 18 milhões somente em 2008. Haja ligação, e haja medo de se mostrar o mau uso do nosso dinheiro. O simples pedido de afastamento já coloca-os como “réu confesso”.
A mordomia do parlamentar brasileiro, cujos trabalhos só acontecem às terças, quartas e quintas é gritante aos nossos ouvidos, mas parece que os eleitores não conseguem entender que somente aquele voto de quatro números que quase ninguém leva à sério poderia mudar esse quadro. A população está acostumada a escolher qualquer um para o voto de deputado, não entendendo que ele é tão importante quanto a escolha do Presidente. Senador, então, a maioria nem sabe o que eles representam. No ano que vem teremos novos eleitos do padrão Paulo Maluf, Celso Russomano, Clodovil Hernandes e Frank Aguiar. Até porque, “deputados e senadores não fazem nada mesmo”.

Heitor Mário Freddo

Um comentário:

Rafael Porcari disse...

E o pior de tudo é que a curto prazo não há nem uma perspectiva de mudanças...