quinta-feira, 7 de maio de 2009

Cadê a Solidariedade?

Chuvas intensas provocam estado de emergência a ponto de se perder o controle; pessoas são arrastadas por correntezas e morrem ao tentar salvar aquilo que lhe pertence, quando não salvar a própria vida; cidades inteiras debaixo d’água, desde casinhas humildes até prédios como a sede de governos municipais.
A descrição acima é idêntica para dois casos recentes na história brasileira: Santa Catarina em 2008 e 10 Estados da região Nordeste neste exato momento. A única diferença está na repercussão e, principalmente, no espírito de solidariedade das pessoas.
No ano passado o Brasil se assustou ao ver Santa Catarina, um estado considerado nobre, da parte mais “elitista” do país, literalmente mergulhada. Todas as rodas de conversa debatiam o tema. Todos os programas de televisão debatiam intensamente o tema. Mais: com exceção da Rede Globo, todas as outras redes de televisão fizeram por conta própria uma conta chamada “Ajude Santa Catarina” para que todos os demais estados, comovidos com a situação, ajudassem aquelas famílias de classe média a reconstruírem suas vidas no sentido financeiro. Resultado: milhões de compatriotas enviaram dinheiro, vestimentas, cobertores, colchões e alimentos, a ponto do governo do estado precisar pedir para se parar com a gentileza.
Hoje o Norte e o Nordeste, regiões historicamente excluídas do mapa brasileiro são quem passam por isso, em proporções muito maiores. 9 Estados já decretaram situação de emergência: Amazonas, Pará, Ceará, Maranhão, Bahia, Alagoas, Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte. Só no Pará são 32 municípios ilhados, sendo que ao todo, 730 mil pessoas foram afetadas nas duas regiões. Até a manhã de hoje, 27 mortos foram encontrados.
Isso sem contar nas áreas afastadas do interior, onde casas ficam a 30 horas de barco das autoridades locais, além dessas pessoas não possuírem um único documento. Isso quer dizer que como elas não existem oficialmente, elas não morreram oficialmente. Mas é tão “vida humana” quanto os demais.
As pessoas relatam que, além de já terem de viver nessa situação, após terem perdido tudo – o que muitas vezes é pouco – com as enchentes, os abrigos frequentemente recebem visitas de cobras, escorpiões e até jacarés trazidos pelas águas – imaginem a altura dessa água em relação às ruas e casas.
Mas como o Brasil recebe tudo isso? Indiferente, se dando ao máximo o direito de dizer “quanto sofrimento”. O noticiário apenas se remete a informar, não raramente, por meio de notinhas curtas, com imagens repetidas. Repórteres em campana como em Santa Catarina, fazendo seus telespectadores chorarem junto de cada pai de família que perdeu todo seu bem material? Nada parecido.
Programas policiais – Datena na BAND, Balanço Geral na Record – inteiros em cima desse tema, com uma conta para ser depositado dinheiro na tela? Definitivamente não.
Santa Catarina seria mais importante que o nordeste então? A casa destruída em Santa Catarina está sendo reconstruída com o dinheiro de brasileiros, mas e o excluído nordestino, como viverá? Onde estão os “solidários” que abriram seus guarda-roupas e sacrificaram um de seus 8 pares de sapatos para calçar um “irmão”? Ele não tem a possibilidade de doar ou seu sentimentalismo acabou junto com a campanha midiática? A Igreja Universal, que fez e aconteceu no ano passado, mostrando ao vivo na TV Record cada um de seus apresentadores fazendo a doação de parte de seus salários para ajudar aquela região rica virou as costas para o norte/nordeste? Leia Deus lhe pague em dobro.
E depois ainda tem gente que acredita na “solidariedade” da mídia.

Foto - Garoto "passeia" de barco entre as casas em Marabá (PA). Se ele fosse branquinho, de olhos verdes e morasse em um estado mais rico certamente já teria recebido ajuda de todo o Brasil. Mas como o Norte/Nordeste já sofre por natureza...

Heitor Mário Freddo

Um comentário:

Rafael Porcari disse...

Infelizmente, essa solidariredade midiática só vem acompanhada de audência. Como "chuvas no NE" não está dando audiência... esqueça-se o coração fraterno!